São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996 |
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Sem cesta, família come farinha
CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
No Vale do Jequitinhonha, a carência de recursos é ainda maior nesta época do ano porque as lavouras estão secas, devido à falta de chuvas, e os homens viajam para o sul de Minas e São Paulo para trabalhar no corte de cana. As mulheres e crianças ficam nas casas, sem dinheiro nem comida, dependendo apenas do crédito dos comerciantes para poder comer. Maria da Costa Neves, 62, que mora na zona rural de Araçuaí (653 km ao norte de Belo Horizonte), é uma dessas mulheres. Com a falta de chuva na região, sua lavoura não produz há vários meses. Dois de seus filhos estão trabalhando no corte de cana em São Paulo e só retornarão, com dinheiro, no final do ano. No último dia 10, quando a Conab deveria ter entregue as cestas para a Prefeitura de Araçuaí distribuir, ela tinha só farinha de mandioca para comer no casebre em que vive com um filho doente e três netos. Segundo a Conab, a entrega das cestas em Araçuaí foi suspensa porque a prefeitura deixou de enviar documentos necessários à liberação. Procurada pela Agência Folha, a prefeitura informou que a documentação está sendo regularizada para que a distribuição seja retomada até o final do mês. Sem sua cesta básica, Maria da Costa foi até a cidade no dia 11 e comprou 15 quilos de mantimentos com R$ 10 que tomou emprestados. Depois, andou cinco quilômetros com as compras nas costas para chegar em casa. Ela elogia a cesta básica, mas reclama dos critérios de distribuição. "Tem gente que não precisa e pega (a cesta básica). Tem gente que precisa, e eles não dão." Ela não sabe que as cestas básicas são distribuídas pelo governo federal. "Disseram que é a prefeitura que dá a comida." Em Chapada do Norte, a 50 km de Araçuaí, a lavradora Margarida Ramos da Cruz, 61, disse que só colheu milho este ano. O marido de sua filha, Áurea Rita Ramos, 30, grávida de oito meses e com dois filhos, está trabalhando no corte de cana em São Paulo e não tem enviado dinheiro para a família. Segundo a filha, a cesta básica recebida em 13 de junho já acabou "há muito tempo" e ela tem alimentado os filhos graças ao crédito junto a comerciantes. (CHS) Texto Anterior: Arroz apodrece em Chapada Próximo Texto: Promotor investiga uso eleitoral Índice |
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