São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996
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Internação de dependente causa polêmica

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Internar à força um menino dependente de droga pode parecer uma violência que só resultará em mais violência. No entanto, a melhor conduta diante de um adolescente que se envolve com drogas ainda desafia e divide psiquiatras e serviços especializados.
A questão veio à tona na cidade de Bauru (345 km a noroeste de SP), onde uma lei municipal estabeleceu um convênio com hospitais psiquiátricos que receberão meninos de rua dependentes de drogas.
A intenção era manter as crianças internadas até que estivessem em condições de participar de outras atividades. Uma reação da Comissão de Saúde Mental -uma instância dentro do Conselho Municipal de Saúde- fez com que todas as entidades da cidade participassem do debate.
Técnica antiga
No próximo mês, prefeitura, Conselho Regional de Psicologia e Unesp (Universidade Estadual Paulista) patrocinam o primeiro encontro sobre drogas de Bauru.
A idéia de internação compulsória colide com a luta contra as internações psiquiátricas existentes há anos no país.
"A internação defendida pela psiquiatria por mais de um século ameaça retornar com os drogados", diz Magali Pacheco Simões, psiquiatra do Proad, programa de tratamento ligado à Universidade Federal de São Paulo.
Segundo ela -que participará dos debates em Bauru-, essa tendência representa um "retrocesso completo".
Necessidade de internação
O psiquiatra Jorge Cesar Gomes de Figueiredo, diretor de uma clínica de tratamento na Grande São Paulo, diz que "a internação compulsória" às vezes é necessária. "Se o adolescente está usando drogas, roubando, colocando sua vida e a dos outros em perigo, precisará ser internado até que possa aceitar um tratamento aberto."
A seu ver, é uma questão de proteger o adolescente.
Figueiredo ressalva que só o tratamento psiquiátrico não resolve. "Se não houver um trabalho de conscientização, com terapia específica, ele voltará para a droga."
Sérgio Dario Seibel, psiquiatra do Hospital das Clínicas e membro do Conselho Estadual de Entorpecentes, diz que muitos juízes estão trocando a pena de prisão do usuário -prevista na lei atual- por um tratamento compulsório. "É um absurdo, pois permite que o traficante burle a lei", afirma.
Na sua opinião, o dependente deve ter acesso a serviços de saúde que ofereçam condições de tratamento.

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