São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996
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Megafusões animam setor de mídia

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Em 1995 as fusões na economia mundial movimentaram negócios no valor de US$ 1 trilhão.
Três setores foram os mais dinâmicos: a indústria farmacêutica, o sistema bancário e a indústria cultural, essa rede complexa e mutante que na falta de definição melhor é chamada de "mídia". Foram 243 fusões apenas no setor de mídia nos EUA no ano passado.
O roteiro inclui lances espetaculares, tais como:
* A Time Warner compra a Turner Broadcasting System Inc., criando o maior conglomerado mundial de lazer e mídia;
* A Capital Cities/ABC e a Disney são fundidas;
Silver King Communications Inc. e Home Shopping Network Inc., que haviam sido separadas em 1992, voltam a se fundir;
* Rupert Murdoch (News Corporation) consegue o controle total da New World Communications e se torna o maior proprietário de estações de TV dos EUA (a Fox tem 35% da audiência);
* A CBS compra a Telenoticias, numa estratégia de entrada nos mercados latino-americanos competindo com a NBC, Univision e a CNN (que anunciou para 97 o lançamento da rede em espanhol);
* A gravadora EMI separa-se da Thorn, podendo ser comprada pela Dinsey e MCA (os EUA têm um terço do mercado mundial de música, que fatura US$ 32 bilhões);
* A MCA (propriedade da Seagram Co. Ltd.) fecha contratos no valor de US$ 2,5 bilhões para distribuir programas na TV alemã;
* A MTV anuncia estratégia de regionalização da programação, com o objetivo de ampliar a sua presença nos mercados europeus e latino-americanos.
Satélites
Na semana passada, mais um lance foi dado na área de mídia e telecomunicações: a Hughes Eletronics, filial da General Motors, anunciou a compra da empresa de telecomunicações por satélite PanAmSat por US$ 3 bilhões.
Surge assim a PanAmSat Corporation, que forma junto com a Hughes Communications Galaxy, do grupo Hughes, a maior empresa privada de satélites do mundo.
Para quem acha esses nomes pouco familiares, um pouco de história recente: no início do ano passado a Hughes Communications Inc. traçava planos de expansão na América Latina e, no Brasil, fez uma aliança com a TVA, que inclui ainda o grupo Cisneros (que acaba de receber uma injeção de capital da Kohlberg Kravis Roberts & Co.) e a Multivisión. A empresa resultante, Galaxy Latin America (GLA), promete investir US$ 500 milhões.
A Globo não deixou por menos e em 95 anunciou sua própria aliança com a News Corp. de Rupert Murdoch (maior "broadcaster" dos EUA), a Televisa do México e a TCI dos Estados Unidos. Dessa aliança podem resultar outros US$ 500 milhões em investimentos.
Voltando à Galaxy, e chegando um pouco mais perto do cotidiano brasileiro, essa empresa associada à maior controladora privada de satélites é a responsável pelo lançamento da DirecTV na América Latina, que promete 72 canais em espanhol e 72 em português, captados por miniparabólicas.
A mídia passa por transformações análogas às dos outros setores dinâmicos da economia global.
São três as características principais: 1) megafusões; 2) operação por meio de redes e parcerias; e 3) interesse no potencial de crescimento dos chamados "mercados emergentes". Do ponto de vista das empresas locais nos mercados emergentes, o ambiente é uma combinação de oportunidade e ameaça. De um lado, a globalização é inevitável. Mas há os riscos do processo tornar-se predatório ou de a produção cultural ficar submetida a padrões e valores dominantes.
A regulamentação em cada país será decisiva. Telefonia, TV a cabo, TV por satélite, Internet e outras mídias interagem e a regulamentação está sendo construída.
Mas a cultura depende de criatividade. Uma pesquisa recente mostra que a sensação de asfixia criativa aumenta com o tamanho das empresas (no último número do "Media Studies Journal"). As megafusões podem estar semeando também megafrustrações.

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