São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 1996
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'Não tive noite de núpcias'

DA REPORTAGEM LOCAL

A empregada doméstica Cleusa Ferreira Vilela, 28, conseguiu realizar no sábado o que dizia ser o grande sonho de sua vida: casar na igreja, usando véu e grinalda.
Mas a felicidade dela durou pouco. "Eu não me conformo. Fiquei viúva no dia do casamento, logo depois de tirar o vestido de noiva", afirmou.
Em recuperação do tiro que levou no joelho esquerdo, Cleusa deu esta entrevista deitada na cama onde passaria a noite de núpcias.
*
Folha - Há quanto tempo a senhora conhecia o seu noivo?
Cleusa Ferreira Vilela - Eu conheci o Jesuíno há dois anos, em um show em Mauá. Eu gostei dele e nós começamos a namorar no mesmo dia. Foi amor a primeira vista.
Folha - Quando vocês decidiram se casar?
Cleusa - No começo do ano, marcamos o casamento para julho. Mas o Jesuíno teve um acidente de carro e nós adiamos os planos para setembro.
Folha - O que a senhora fez quando viu seu noivo ser baleado?
Cleusa - Eu saí correndo e o abracei. Ele estava sangrando muito e disse para eu fugir porque senão iria morrer junto com ele.
Naquela hora, eu senti uma queimadura no joelho e vi que tinha sido baleada. Eu fiquei tão desesperada que desmaiei e só acordei no hospital.
Folha - Como era a relação de seu noivo com o irmão?
Cleusa - Nunca vi dois irmãos tão amigos. Em dois anos, eu nunca vi eles brigarem. Acho que a tragédia só aconteceu porque o Joaquim estava muito bêbado. Ele tinha misturado cerveja com conhaque.
Folha - O que a senhora espera que aconteça com seu cunhado?
Cleusa - Ele tem que ser preso e pagar pelo que fez. Ele destruiu a minha felicidade. Eu era apaixonada pelo Jesuíno e sonhava casar na igreja, usando véu e grinalda.
Nós guardamos dinheiro, passamos aperto para conseguir casar e o Joaquim destrói tudo isso com um tiro.
Eu não me conformo. Fiquei viúva no dia do casamento. Eu tinha acabado de tirar o vestido de noiva, não tive nem noite de núpcias.

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