São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 1996
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O fura-fila de FHC

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - Quer vê-lo irritado? Simples. Chame-o de "tesoureiro". Ele conheceu Fernando Henrique em 75, no jornal "Movimento". Em 78, já era coordenador de sua campanha ao Senado. Hoje, é íntimo de Sua Excelência. Talvez não haja ninguém mais íntimo.
Pelo gosto do pai, José Vieira, teria se chamado Sérgio Roberto Vieira da Motta. Não se imaginou que, espaçoso, cresceria tanto para as laterais. A ponto de justificar uma alcunha que, enganchada ao prenome, esmaga o sobrenome: Gordo.
Sérgio Gordo é como o chamavam. Serjão é como o chamam agora. O aumentativo não embute qualquer exagero, diga-se. Exceto pela voz, miúda como a de Mike Tyson, tudo em Serjão parece exagerado. A começar por seu apetite.
Não se está falando aqui da óbvia apetência de nosso personagem por alimentos. O tipo de fome que se quer realçar é a fome de poder. Sob Fernando Henrique, onde houver uma fresta vazia, lá estará Serjão para ocupá-la.
Falta oposição ao governo? Serjão tacha o Comunidade Solidária de "masturbação sociológica". Falta coordenação política ao Planalto? Serjão abraça, ele próprio, o papel de mercador da reeleição. Falta rumo à campanha de Serra? Serjão investe contra Pitta. Chama-o de "iogurte", de "fantoche" de Maluf.
Em duas palavras, Serjão é a paixão com braços. Gestos fartos, guia-se pela emoção. O poder é seu brinquedo. O lume do holofote, sua vitamina.
Serjão é, antes de ministro, uma combinação de empresário e tocador de campanhas políticas, não necessariamente nessa ordem. Prepara-se para gerir um negócio vistoso: a venda das telefônicas brasileiras.
Obcecado pela tese da reeleição, o governo de Fernando Henrique está ficando com a cara de Serjão -um fura-fila de carne e osso, um personagem pouco afeito a pedidos de licença. Governos assim podem até encurtar caminhos. Mas estarão sempre às voltas com o risco de esbarrões indesejados.

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