São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 1996
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Carlos Heitor Cony lança livro sobre lagoa Rodrigo de Freitas

Escritor mostra lados "solidário e solitário" do lugar

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

"A lagoa tem um lado solidário e um lado solitário. Os dois sempre me atraíram muito", explica Cony, do Conselho Editorial da Folha.
No livro, o escritor relembra o dia em que viu a lagoa pela primeira vez, aos 14 anos. Ao espanto de encontrar aquela "massa líquida imensamente bela", Cony somou a surpresa de encontrar, boiando nas águas, um objeto, "uma espécie de mensagem que eu recebia do mundo que começava a se abrir para mim e para o meu tempo".
O objeto era uma garrafa. Nela, gravado um nome até então desconhecido: Coca-Cola.
"Sempre me impressionou muito a história do náufrago que usa uma garrafa para tentar reencontrar o mundo. Eu encontrei essa mensagem na lagoa. Ali, naquele momento, terminava minha infância. Ali vi que o mundo tinha muitas coisas misteriosas", diz.
No livro, Cony fala de sua identificação com os personagens da lagoa -o remador que todas as manhãs atravessa as águas em seu barco branco e os atletas que correm pelas margens, por exemplo.
"Acho que o remador solitário da lagoa é o meu duplo. E quanto aos atletas, entre a culpa de não imitá-los e a inveja pelo que fazem, preferi optar pelo segundo sentimento", afirma.
E a "inveja saudável", como diz Cony, é contada em um dos trechos do livro: "No dia em que for milionário, contratarei meia dúzia de atletas para irem correr lá em baixo por mim. Ficarei aqui em cima, olhando a manhã, o sol e a lagoa, olhando os barcos e velas, com a certeza de que, na festa da vida, terei a melhor parte".
"Lagoa - História, Morfologia e Sintaxe" faz parte da coleção Cantos do Rio, editada pela RioArte e pela Relume-Dumará Editores. Além do livro de Cony, serão lançados outros quatro volumes da coleção. O lançamento será hoje a partir das 20h no Espaço Cultural Sérgio Porto (rua do Humaitá, 163, zona sul do Rio).

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