São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 1996
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Francês faz a sua feira na fazenda

Cliente colhe frutas e legumes

LUCIANA VEIT
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE PARIS

"Estamos em plena produção de vagem, repolho roxo e verde, alho-poró e restam ainda frutas vermelhas, como morangos e framboesas. Temos também alface, tomates, melões."
Este é o recado que o consumidor francês ouve atualmente ao telefonar para "O Jardim de Noisy" (Le Jardin de Noisy), uma das fazendas-colheita do país.
As fazendas-colheita (ferme-cueillette) são propriedades na França que têm uma área da lavoura aberta para que o próprio consumidor colha seus produtos, entre frutas, legumes e flores.
Os produtores oferecem embalagens (caixas de papelão, sacos plásticos e cestas para as frutas), informações sobre como colher, armazenar, o período de conservação, técnicas de congelamento e até receitas.
O cliente colhe e, na saída, pesa sua compra que é paga segundo uma tabela afixada na plantação. Para certos alimentos o preço cai em função da quantidade.
A idéia chegou à França nos anos 80 e hoje leva até 1.000 pessoas por dia (nos finais de semana) para cada fazenda.
Segundo levantamento do Centro de Estudo e Documentação do Açúcar, existem 125 fazendas abertas para o consumidor na França, sendo 28 na região parisiense.
Guillemette Dupret, da fazenda do Viltain (ferme de Viltain), diz que a idéia surgiu na Inglaterra, nos anos 60, e também se desenvolveu na Alemanha e EUA.
Na fazenda do Viltain, originalmente construída para produção de leite e derivados, a colheita foi introduzida em 81.
"Começamos oferecendo apenas frutas para que as pessoas se acostumassem a nos frequentar e a adquirir nossos produtos, como leite, iogurte, creme de leite e queijos", diz Dupret.
Em 84 a área da fazenda do Viltain para a colheita era de 10 ha, aberta de julho a setembro.
Hoje, funcionando de abril a outubro, são 30 ha, de um total de 185 ha, oferecendo 30 culturas diferentes.
A proximidade de Paris e o fato de estar rodeada por pequenas cidades de bom poder aquisitivo são fundamentais para o sucesso da colheita, segundo Dupret.
O quilo do morango, por exemplo, custa 18 francos. Nos supermercados, meio quilo sai pelo mesmo preço. As frutas do bosque (morango, framboesa, groselha e cassis), mais demoradas para colher, têm tarifa especial e são o atrativo nos meses de verão.
Mas o preço não é o fundamental. A qualidade e frescor do produto e o prazer de estar numa fazenda são o que mais contam para os clientes.
Nos finais de semana a colheita tornou-se um programa de família, atraindo os parisienses e moradores das redondezas.
Para cativar esse público os agricultores investiram em áreas e brinquedos para crianças além de cuidar da aparência da lavoura.
A diversificação é outra meta. Na fazenda do Viltain só de maçãs são oferecidas 11 variedades, em 5,5 ha, com espécies de inverno, que se conservam por até oito meses em uma cave.
Esse ano foram plantadas também videiras.

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