São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 1996
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Torcida da Davis deu uma de Mancha Verde

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Os admiradores do tênis estão felizes da vida. Nossa equipe eliminou a Áustria da Copa Davis e a vitória catapultou os brazucas novamente para o grupo de elite da competição.
Então por que estou tão triste? Afinal, sou veterana praticante e admiradora do esporte. Vi Edson Mandarino e Thomas Koch arrasarem na década de 70; lembro do Luiz Mattar, quase do tamanho da raquete, ser repreendido pelo pai sempre que dava de irritadinho, tipo John McEnroe, nas quadras do Clube Harmonia de Tênis, e, aos 16 anos, cheguei até a ocupar o posto de juiz de linha no torneio WCT, no ginásio do Ibirapuera, só porque a vaga precisava ser preenchida e um dos organizadores percebeu que eu sabia dizer "out", fora, em inglês.
Não nego que o austríaco Thomas Muster -que abandonou a quadra durante o confronto com a equipe brasileira no fim-de-semana em São Paulo, alegando que a torcida não lhe dava condições de prosseguir o jogo- é um serzinho intragável. Um dos melhores jogadores do mundo em piso de saibro, ele se notabiliza também pelo temperamento arisco. Foi embora do Brasil dizendo que nunca mais põe os pés "neste país de animais".
Acontece que, nesse episódio, Muster está coberto de razão.
Concordo que a torcida deve incentivar seu jogador a cada ponto da partida. Mas chegar ao cúmulo de fazer batucada e gritar palavrões quando o adversário está se preparando para sacar é comportamento que não condiz com quem pretende sediar os Jogos Olímpicos de 2004.
Qualquer fã do tênis sabe que é preciso concentração na hora de realizar o saque. Especialmente no tipo de tênis que se joga hoje em dia, em que o saque é -quase- tudo.
Mas, no país do alalaô, a torcida não vai à quadra para ver um bom espetáculo ou para apreciar a técnica de um jogador como Muster, que no ano passado chegou a ocupar o primeiro posto no ranking mundial. A única coisa que interessa é ver o Brasil ganhar. Custe o que custar.
Na Olimpíada de Atlanta esse comportamento "descontraído" -na forma do grito de um torcedor brasileiro durante o saque do tenista Fernando Meligeni- acabou tirando a concentração do jogador e custando uma medalha de bronze ao Brasil. Pena que a lição não tenha sido assimilada.

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