São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 1996
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Menem diz que paralisação é "turística"

DANIEL BRAMATTI
DE BUENOS AIRES

O presidente da Argentina, Carlos Menem, lançou ontem uma provocação aos sindicalistas que convocaram a greve geral de 36 horas, cujo início está marcado para o meio-dia de amanhã.
"Não posso nem sequer dizer que se trata de uma greve política. É uma greve turística. O objetivo é não trabalhar na quinta e sexta-feira, além do fim-de-semana", disse Menem, que calculou em US$ 1,7 bilhão o prejuízo causado pela paralisação.
O presidente da CGT (Confederação Geral do Trabalho), Rodolfo Daer, ironizou a declaração. "Só posso responder com humor. Vamos sair em viagem turística, já que todos os trabalhadores estão ganhando bons salários e até os desempregados têm altos ganhos com o seguro-desemprego", disse.
A seguir, Daer mudou o tom da crítica: "É uma pena que o presidente não respeite o direito de manifestação contra a precarização do trabalho."
A resposta mais dura veio do sindicalista Carlos "Perro" Santillán, considerado um radical opositor ao governo. "Menem fala em turismo porque é só o que tem na cabeça. Estamos lutando para não virarmos escravos", disse.
O líder da UCR (União Cívica Radical, principal partido de oposição) na Câmara dos Deputados, Francisco Storani, considerou o comentário de Menem uma demonstração de "falta de respeito".
A UCR manifestou apoio oficial à greve, que deve ter alto índice de adesão, segundo os sindicalistas. A Polícia Federal vai colocar 1.800 homens nas ruas de Buenos Aires para evitar possíveis distúrbios.
Além de provocar os sindicalistas, Menem reuniu ontem a cúpula do Partido Justicialista (governista) para tentar garantir um respaldo unânime às propostas de flexibilização na legislação trabalhista.
O projeto do governo, segundo revelou ontem o jornal "Clarín", prevê jornadas diárias de trabalho de até 12 horas, em vez das atuais oito. As horas extras poderiam ser "pagas" com horas de descanso nos meses em que há queda na demanda de mão-de-obra.
Além disso, o projeto cria uma parte variável nos salários, cujo pagamento poderá ser suspenso se a empresa enfrentar dificuldades. O 13º salário poderá ser pago em 12 cotas e as indenizações por demissões serão substituídas por um fundo de garantia, financiado com contribuições dos empresários.
A proposta deve ser encaminhada ao Congresso. Menem, porém, ameaçou assinar decretos de necessidade e urgência (similares às medidas provisórias no Brasil) se os parlamentares demonstrarem resistências.

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