São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Procurador do grupo teve medo de ver ensaios

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os seis sambistas do Sistema costumam dizer que andam "com as pernas do Salvador". Não aquele da Galiléia, avisam, mas outro, de São Paulo mesmo. José Salvador Alves Simplício é o procurador do grupo há dois anos.
Conheceu os músicos quando organizava shows de pagode pela cidade. "Um funcionário da penitenciária, que morava perto de casa, me trouxe uma carta assinada por Nego Lu, Osmar PP e Jorginho LS", relembra.
Os três convidavam Salvador para ver um ensaio do Sistema no Carandiru. "Tive medo de ir."
Relutou por uns dias, até que a curiosidade se impôs. "Na véspera da primeira visita, não dormi. Ficava tenso, pensando como seria entrar em uma prisão."
Entrou, não enfrentou problema algum e ainda se surpreendeu com o samba "dos meninos". "Dá para entender o receio, né? Em delegacia, estive uma vez, tirando o RG. Mas presídio, só conhecia de filme."
Dinheiro
Desde então, Salvador não largou mais o grupo. "Botei na cabeça que iria lançá-lo."
Bateu à porta de muitas gravadoras, famosas ou não. "O pessoal me atendia hoje e no dia seguinte virava a cara. Fora polícia e advogado, ninguém quer mexer com preso."
O procurador diz que, por enquanto, o Sistema não lhe rendeu "nem um centavo". "Mas vai render. As canções falam de experiências verdadeiras, têm apelo, são do jeito que o povão gosta."
Para a NGA, única gravadora que resolveu apostar no grupo, dinheiro fica em segundo plano.
Quando os sambistas deixarem o estúdio, a empresa pretende passar adiante o "tape" das músicas.
A idéia é prensar uns poucos CDs, divulgá-los nas rádios e atrair o interesse de alguma gravadora maior -que, então, distribuirá o disco em larga escala.
"Não queremos participação nas futuras vendas", afirma Noemi Alcaraz, proprietária da NGA. "Estamos investindo em cidadania. Vamos provar que, com apoio, qualquer pessoa pode se regenerar."
Evangélica, Noemi Alcaraz frequenta os cultos da Congregação Cristã.
Lasanha
Outra entusiasta dos sambistas é Ana Maria Braga, que comanda um programa de auditório na Record todo sábado à noite.
Em julho, promoveu a estréia dos músicos frente às câmeras. "Sou a madrinha do grupo. Os rapazes tocam bem e estão brigando para acertar. Não me custa nada estender a mão."
Durante o programa, Nego Lu ganhou um presente da apresentadora: uma travessa cheia de lasanha.
(AA)

Texto Anterior: Quem são os sambistas
Próximo Texto: Coluna Joyce Pascowitch
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.