São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 1996
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Cigarro da mãe faz criança 'passar fome', diz estudo

Falta de oxigênio torna pior raciocínio de filho de fumantes

AURELIANO BIANCARELLI
DO ENVIADO ESPECIAL

Filhos de mulheres que fumam durante a gravidez apresentam desempenho inferior em testes de leitura e de habilidade matemática.
Segundo o professor Mário Rigatto, da UFRGS, estudos norte-americanos mostram que essas crianças só se alfabetizam sete meses depois que as outras.
Os mesmos estudantes avaliados aos 11 anos idade revelaram um coeficiente de inteligência inferior ao dos colegas.
"Essa deficiência talvez seja o efeito mais dramático do cigarro", diz Rigatto.
Segundo ele, a perda de inteligência se deve à "fome" que a criança passa durante a gestação.
A mãe que fuma durante a gravidez tem uma redução de oxigênio no sangue, diminuindo também a oxigenação do feto. Sem oxigênio, os nutrientes não são totalmente aproveitados, diz o professor.
Consciência do dano
Na pesquisa feita pela UFRGS, a dificuldade de largar o cigarro foi a principal alegação das mães fumantes. "Todas as gestantes que fumavam sabiam que o cigarro prejudicava seu bebê", disse a pesquisadora Isabel de Oliveira Netto. "Mas não conseguiam parar."
A diferença aparece no nível cultural das mães. Segundo o estudo, só 9,2% das gestantes com segundo grau e nível superior fumaram durante toda a gravidez. Entre aquelas com menor escolaridade, a porcentagem subiu para 27%.
Em outro trabalho, a mesma autora mostrou que as mães que fumam na amamentação transmitem a seus bebês o equivalente em nicotina a três cigarros por dia.
Segundo Rigatto, há países do Terceiro Mundo onde a taxa de gestantes que fumam é maior que a do Brasil. O número de 900 mil gestações/ano mantém o país como campeão de "bebês fumantes passivos".
No Brasil, perto de 3,5 milhões de crianças nascem a cada ano, tomando como base o número de registros apurado pelo IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para 1994.
Os pesquisadores da UFRGS observaram que as mulheres mais pobres -justamente as que têm mais filhos-, fumam duas vezes mais que as de classe média, só podem comprar cigarros mais baratos, com mais nicotina, e fumam o cigarro até o fim, consumindo sua parte mais tóxica.
Para agravar, vivem em habitações pequenas, o que potencializa o efeito da fumaça.
(AB)

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