São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 1996
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Adeus, floresta amazônica

ANTONIO SILVEIRA R. DOS SANTOS

Segundo notícia veiculada pela Folha, no dia 16 de setembro, as extraordinárias florestas da região Amazônica estão sob nova e grave ameaça, pois poderosas empresas madeireiras asiáticas estão fazendo investimentos altíssimos na América do Sul para exploração dos recursos florestais, retirando, processando e exportando madeira para a Europa, Japão e Estados Unidos.
Esse novo direcionamento de investimentos é justamente porque as florestas da Malásia, das Filipinas e da Guiné, onde agiram e ainda agem essas empresas, já estão praticamente esgotadas.
Assim, a indústria extrativa da madeira volta suas poderosas garras (ou serras) para o continente sul-americano, onde restam as últimas grandes florestas equatoriais e tropicais.
Inclusive já há notícias de que negociaram com a Guiana, a Venezuela e a Colômbia e estão comprando terras no Brasil, onde em breve iniciarão sua "obra".
Isso é muito preocupante e merece muita atenção dos poderes públicos e da sociedade civil representada pelas organizações não-governamentais (ONGs), para que possamos barrar as ações devastadoras desse comércio, que fatalmente devastará o nosso país.
A extração da madeira não pode ser feita com o sacrifício de toda a floresta.
Ela deve ser feita de maneira auto-sustentável, isto é, deve-se retirar somente a madeira que interessa e de forma menos danosa ao ambiente.
E mesmo assim não pode ser feita em áreas destinadas a preservação permanente, as quais devem permanecer intactas.
A aproximação dessa perigosa atividade é o suficiente para que nos preparemos para evitar as consequências da ganância mundial em torno de nossas riquezas.
A riqueza natural é um patrimônio inestimável de uma nação e não pode ser perdida.
Ademais, não podemos esquecer que a floresta amazônica é um patrimônio nacional protegido pela nossa Constituição Federal (artigo 225, parágrafo 4º), sendo esse mais um motivo (legal) de proteção.
Portanto, devemos a todo custo preservá-la se não quisermos dar adeus a esse tesouro; tão extraordinário que guarda ainda em seu seio, além da maior biodiversidade do planeta, representantes longínquos de nossa raça, os quais merecem no mínimo o nosso respeito.
Afinal de contas, será que não somos suficientemente inteligentes para perceber a amplitude da questão e suas consequências?

Antonio Silveira Ribeiro dos Santos, 45, juiz de direito, é membro do CEO (Centro de Estudos Ornitológicos) e do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).

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