São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 1996
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Greve argentina tem ampla adesão

DANIEL BRAMATTI
DE BUENOS AIRES

A população argentina deu ontem uma nova mostra de descontentamento em relação aos rumos da economia do país. A greve geral convocada pela CGT (Confederação Geral do Trabalho) teve alto índice de adesão no interior e em Buenos Aires, palco da maior manifestação sindical desde o início do governo Carlos Menem.
A Praça de Maio, no centro da capital, ficou completamente tomada a partir das 15h. O líder da CGT, Rodolfo Daer, estimou o número de manifestantes em 100 mil. Já o ministro do Interior, Carlos Corach, reduziu a avaliação para "35 a 40 mil".
O palanque dos sindicalistas foi montado em frente à Casa Rosada, sede da Presidência da República. Todas as janelas do prédio ficaram fechadas durante o protesto.
Em entrevista coletiva, no final da tarde, Daer disse que a alta adesão à greve -que continuará durante todo o dia de hoje- confirma que os argentinos "não suportam mais o ajuste".
"A praça rechaçou o projeto de precarização do trabalho", disse Daer, se referindo à flexibilização trabalhista proposta pelo governo.
Quase ao mesmo tempo, o governo recebia o respaldo do diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Michel Camdessus, que qualificou o plano econômico como "um dos maiores êxitos dos últimos 60 anos".
No início da noite, o ministro do Interior disse que o governo não vai recuar na tentativa de mudar as leis trabalhistas. "Não haverá mudanças de rumo", disse Corach, que, antes da greve, havia convidado a CGT a "reabrir o diálogo".
O porta-voz da central, Carlos West Ocampo, disse que a estratégia dos sindicalistas é outra. "Vamos dialogar com o Congresso durante a análise da reforma trabalhista, que é apenas uma tentativa de redução salarial."
Segundo o Ministério do Interior, não houve distúrbios significativos no primeiro dia da greve. Um pequeno tumulto foi registrado na cidade de Córdoba, onde as vidraças de algumas lojas foram quebradas. Em Mar del Plata e Avellaneda (Grande Buenos Aires), ônibus foram danificados por manifestantes.
O primeiro grande protesto contra o atual governo foi a greve geral do dia 8 de agosto, marcada por conflitos entre sindicalistas e policiais. No último dia 12, a população voltou a se manifestar, aderindo em massa ao "apagón" (blecaute) convocado pela oposição.
Protesto internacional O presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, anunciou a realização de um protesto unificado em toda a América Latina contra o desemprego e a redução dos direitos trabalhistas.
"Ainda não decidimos a data do protesto, que pode ser uma greve geral ou um ato público", disse Vicentinho, que viajou a Buenos Aires juntamente com o presidente da Força Sindical, Luiz Antônio Medeiros. As centrais brasileiras pagaram as passagens e a CGT assumiu os custos de hospedagem.

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