São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 1996
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Taylor recria trilhas policiais no Free Jazz

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quem festejou ao ver o nome de James Taylor na programação do 11º Free Jazz, imaginando reencontrar o compositor norte-americano que marcou os anos 70 com suas canções sensíveis, pode levar um grande susto.
Nos shows anunciados para os próximos dias 11 (São Paulo) e 12 (Rio), vai encontrar um bando de sujeitos estranhos, com roupas de gângsteres, tocando e dançando alguma coisa entre o jazz, o funk, o soul e o rhythm & blues.
É só uma coincidência. Também se chama James Taylor o organista e compositor britânico que, na virada desta década, tornou-se astro de um suposto novo gênero musical, que a mídia inglesa batizou de "acid jazz".
Ainda quase desconhecido por aqui, o ineditismo do James Taylor Quartet também será desfeito nas lojas: a PolyGram promete lançar em outubro o último CD do grupo (leia ao lado).
Entre as excentricidades mais populares do quarteto (que em geral tem mais de quatro músicos) estão dançantes arranjos de temas de filmes policiais, como "Missão Impossível", "Goldfinger" ou "Starsky & Hutch".
Em entrevista à Folha, por telefone, o líder do James Taylor Quartet falou de sua mania por trilhas, rejeitou o rótulo "acid jazz" e confessou que não sabe diferenciar um samba de uma salsa.
*
Folha - Você também chama sua música de "acid jazz"?
James Taylor - Jamais. Os rótulos servem apenas para as gravadoras venderem. Além disso, "acid jazz" não quer dizer nada. Todas essas bandas que, supostamente, estariam tocando "acid jazz", são muito diferentes. Não conheço nenhuma que se pareça conosco.
Folha - Você se interessa por jazz? Ouve há muito tempo?
Taylor - Sim, já ouvi muito jazz, e nossa música tem uma grande dose de improvisação. Quando era adolescente, também ouvi muitas bandas de rock britânico, como Small Faces. Acho que recebemos influências variadas, tanto do jazz como do rock, do soul ou do funk.
Folha - Que músicos o estimularam a tocar um instrumento já um tanto esquecido como o órgão Hammond?
Taylor - Meu primeiro ídolo foi Booker T. Jones. Ele e o som da gravadora Stax ainda são muito importantes para mim. Também gostava de Jon Lord, do Deep Purple. Depois, comecei a comprar discos de organistas próximos do jazz, como Jimmy Smith, Charles Earland e Jack McDuff.
Folha - Em "Do Your Own Thing", álbum que o James Taylor Quartet lançou em 90, há um tema seu que se chama "Samba For Bill & Ben". Algo a ver com Jorge Ben Jor?
Taylor - Quem?
Folha - Ben Jor é um sambista e compositor brasileiro.
Taylor - Desculpe, mas não o conheço. Bill e Ben são apenas filhos de meu irmão. Infelizmente, não sei quase nada sobre o Brasil.
Folha - Dá para perceber. Apesar do nome, sua composição soa mais como salsa do que um samba...
Taylor - É mesmo? Perguntei a um amigo e ele me disse que era um samba (risos). Gosto de ouvir música latina nos clubes, mas não sei nada a respeito. Espero ter chances de conhecer um pouco por aí. Vou levar até um gravador para registrar algumas coisas.
Folha - Como será o show de vocês no Brasil?
Taylor - Só instrumental. Vamos tocar algumas faixas de nosso último álbum, alguns covers e temas de filmes, como "Starsky & Hutch" e "Dirty Harry".
Folha - Aliás, parece que você é fanático por trilhas sonoras...
Taylor - Eu não diria fanático. Gosto de várias coisas em música e as trilhas estão entre elas. Minha banda é basicamente instrumental, e músicas de filmes funcionam muito bem como música instrumental. E o cinema é uma mídia bastante poderosa hoje.
Folha - A banda Incognito toca na mesma noite de vocês. Que tal?
Taylor - É uma banda de soul e funk muito popular por aqui. Gosto muito do som deles.

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