São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 1996
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Estudo revela como corpo resiste à Aids

DA REPORTAGEM LOCAL

Cientistas do Instituto Nacional do Câncer (NCI) dos EUA confirmaram que uma mutação genética é responsável pelo fato de algumas pessoas serem altamente resistentes ao vírus que provoca a Aids.
Os genes contêm as informações sobre as características de um indivíduo que são transmitidas hereditariamente (dos pais para os filhos) e "produzem" as substâncias necessárias para o funcionamento do organismo.
Genes mutantes, "anormais", podem fazer o organismo funcionar de maneira diferente e podem também provocar doenças.
Em estudo que está sendo publicado na edição de hoje da revista "Science", Stephen O'Brien e equipe, do NCI, afirmam que pessoas com duas cópias mutantes do gene que "produz" o receptor da proteína quemoquina são muito resistentes ao vírus HIV.
Para entrar nas células humanas, o vírus HIV precisa "encaixar-se" na superfície delas.
É como se o HIV tivesse uma chave para se encaixar numa fechadura da célula (veja quadro ao lado). Aberta a fechadura, o HIV entra na célula, a infecta, se reproduz e a destrói.
Sem essas células, que defendem o corpo contra outros vírus e bactérias, o organismo não tem como combater as infecções -a pessoa se torna então doente de Aids.
O nome biológico das fechaduras que o HIV abre é receptor. Os genes são os "ferreiros" que fabricam as fechaduras.
Se os genes são mutantes, as fechaduras também são diferentes. Essas fechaduras são os receptores de quemoquina (CKR5). Nos receptores alterados (mutantes), o HIV não consegue colocar sua chave.
Fechadura
O pesquisador Stephen O'Brien e equipe estudaram 1.955 pessoas com alto risco de infecção pelo HIV e infectados pelo vírus.
Os cientistas confirmaram e especificaram duas pesquisas menores publicadas neste ano.
Esses estudos mostravam que mutantes homozigotos, com dois genes mutantes (leia texto ao lado), pareciam resistir à infecção.
O'Brien mostrou que essas mutações são mais comuns em caucasianos ("brancos") -incidência de 11%- do que em afro-americanos (1,7%).
Segundo Jon Cohen, que comentou o trabalho para a "Science", um dos dados mais novos da pesquisa de O'Brien é a descoberta de que as pessoas mutantes heterozigotas (com apenas um gene modificado no par) infectados pelo HIV levam muito mais tempo para desenvolver a Aids do que as demais pessoas.
"São os dados mais impressionantes que já vi nesta área", disse Robert Gallo sobre a descoberta. Gallo, um dos mais importantes pesquisadores de Aids, descobriu as quemoquinas no ano passado.
Os resultados apresentam uma pista importante para pesquisar um modo de bloquear a infecção pelo HIV.

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