São Paulo, sábado, 28 de setembro de 1996
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Mercados da AL deverão ser mais 'vigiados'

GILSON SCHWARTZ

GILSON SCHWARTZ; CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Países ricos estudam mecanismos de supervisão para evitar crises financeiras como a mexicana

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
Quase dois anos depois da crise mexicana, as crises financeiras são novamente analisadas como episódios fortuitos contra os quais é sempre possível se prevenir.
Esse é o tom marcante do discurso de alguns economistas no seminário "Sistemas Financeiros Seguros e Sólidos: o que funciona para a América Latina?", que começou ontem no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), em Washington.
O sub-secretário do Tesouro dos EUA, Lawrence Summers, fez a conferência inaugural dizendo que problemas financeiros não são exclusivos da América Latina, e que o G-7 (países ricos) está trabalhando num esquema de fortalecimento dos sistemas financeiros nos mercados emergentes.
Ele não deu detalhes do projeto, mas deixou claro que se trata sobretudo de aumentar a supervisão de organismos internacionais como o FMI sobre os mercados.
O recado parece claro: os governos ricos não podem nem querem gastar dinheiro para salvar instituições financeiras, como ocorreu no caso do México, e são contra qualquer limite à liberalização dos mercados. A receita, portanto, é aumentar a vigilância.
Mas vigiar significa ter acesso a informação. O primeiro trabalho do seminário, preparado por Liliana Rojas-Suárez e Steven Weisbrod, os principais técnicos do BID na área de sistemas financeiros, tenta mostrar que isso é possível.
Analisando o México e a Argentina, por exemplo, eles afirmam que o próprio mercado já emitia sinais até dois anos antes de que alguns bancos estavam correndo riscos demais.
A nota destoante veio de Charles Goodhart, da London School of Economics e um dos mais respeitados especialistas mundiais em bancos centrais. Ele disse que a análise dos técnicos do BID ignora fatos da vida real, como o princípio de que alguns bancos são grandes demais para quebrar.
Ou seja, há fatores institucionais que impedem a leitura correta e a tempo de variáveis como juros oferecidos por bancos.
Renda desigual
O presidente do Banco Mundial, James Wolfensohn, disse que o problema da desigualdade de renda na América Latina se mantém, apesar do aumento da renda per capita na região.
Ele acha que os projetos do Banco Mundial sozinhos serão incapazes de mudar a situação, e que é necessário um esforço concentrado de governos e entidades multilaterais para que isso aconteça.
Os comentários foram feitos em entrevista coletiva às vésperas da abertura da 51ª Reunião Anual conjunta do banco e do FMI.
Wolfensohn disse também que as discordâncias entre sua entidade, o FMI e os sete países mais ricos do mundo a respeito de um projeto comum para aliviar a dívida externa dos países pobres estão "quase resolvidas".
O Banco Mundial resolveu quadruplicar a sua participação no pacote (de US$ 500 milhões para US$ 2 bilhões) para acelerar o processo.

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