São Paulo, sábado, 28 de setembro de 1996
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Milícia afegã declara Estado islâmico

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Após tomar Cabul, a capital do Afeganistão, a milícia estudantil Taleban anunciou ontem que governaria o país como um Estado islâmico e matou o ex-presidente comunista Najibullah.
Os corpos de Najibullah e de seu irmão Shahpur Ahmadzai estavam pendurados em um sinal de trânsito na frente do palácio presidencial, sendo observados por mais de mil pessoas no local.
"Nós o matamos porque ele foi um assassino do nosso povo", disse um comandante do Taleban.
A milícia tomou a cidade praticamente sem confrontos depois que os soldados leais ao presidente Burhanuddin Rabbani fugiram.
O vice-chanceler do país, Adbul Rahim Ghafoorzai, disse em Nova York que o governo se refugiou temendo a morte de milhares de civis em fortes enfrentamentos.
Em uma ofensiva de dois dias anterior à tomada de Cabul, centenas de pessoas morreram na cidade, segundo a Cruz Vermelha.
A milícia de estudantes fundamentalistas islâmicos buscava ontem o presidente, que teria se refugiado em Jabal-us-Sahraj.
O líder da milícia, Mullah Mohammad Omar, que perdeu um olho lutando contra a ocupação da ex-URSS nos anos 80, anunciou a criação de um junta interina de seis pessoas para o governo.
Ele suspendeu os embaixadores do Afeganistão e pediu que eles não gastassem o dinheiro afegão.
A milícia também ordenou que todas as funcionárias públicas não aparecessem para trabalhar.
Nas áreas afegãs em que a milícia controla, as escolas para garotas foram fechadas, as mulheres não podem sair de casa a não ser que acompanhadas por homens, as TVs foram jogadas nas ruas, e os esportes foram proibidos.
Mas o Taleban conseguiu trazer ordem de volta a essas regiões, atingidas pela guerra civil do país, e obteve o apoio da população.
O grupo surgiu há apenas dois anos nas escolas religiosas islâmicas do Paquistão. A maior parte de seus membros é da maioria étnica patã, que tradicionalmente domina a política do país. O atual presidente é da etnia tadjique.
Assassinato
O último presidente comunista do país, Najibullah, 49, foi retirado do prédio da ONU onde se refugiava desde 1992, espancado e enforcado. Najibullah (1986-92), apoiado pela ex-URSS, ordenou a morte de milhares de opositores.
Depois de sua renúncia, a guerra civil do país se intensificou, com a tomada do poder dos líderes muçulmanos, que fizeram vários acordos de paz fracassados.
O Irã, que apoiava algumas das facções na guerra civil do Afeganistão, disse estar preocupado com a situação no país.
O Irã também tem regime fundamentalista islâmico, mas é opositor do Taleban. Rússia e Índia também expressaram preocupação.
O Paquistão, acusado de apoiar o Taleban, disse que enviaria representantes ao país para negociar com o novo governo.

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