São Paulo, segunda-feira, 30 de setembro de 1996
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Mostra vê mundo diáfano de Mira Schendel

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

São Paulo vive esta semana seus dias de "cidade grande" nas artes plásticas. Hoje tem Mira Schendel no Sesi. Amanhã tem Antonio Dias na Luisa Strina e duas boas coletivas no MAM. Na quarta tem o francês Pierre Soulages no Masp. Na sexta tem Beatriz Milhazes na Camargo Vilaça e o acervo da francesa Andrée Putman na Faap. E no sábado começa a Bienal.
Para os insaciáveis, tem ainda a mostra "Antarctica Artes com a Folha" (veja à pág. 4-3); as coletivas "Excesso", no Paço das Artes (av. da Universidade, 1, USP); "No Existem los Límites", na antiga Maternidade Condessa Filomena Matarazzo-Hospital Umberto Primo (al. Rio Claro, 190, Cerqueira César); e "Pequenas Mãos" no Centro Cultural Alumni (r. Brasiliense, 65, Brooklin).
Mira
A supersemana das artes plásticas não poderia começar melhor.
Embora não seja a maior retrospectiva da artista já realizada na cidade, uma mostra de Mira Schendel representa sempre um alento, um sopro de civilidade no mercado das artes.
Mira Schendel (1919-1988) era uma suíça que aqui se instalou -com mala, traço e cuia-, em 1949, aos 30 anos de idade. Era "cool", zen, leve e silenciosa. E sempre passava isso em sua obra.
"Não tenho nada a falar. Tudo o que tenho a dizer está lá nas minhas pinturas", disse uma vez.
Então ouça o que Mira tem a dizer por meio dos 152 trabalhos que o Sesi expõe a partir de hoje.
Organizada pela curadora Sônia Salzstein, a mostra cobre toda a produção artística de Mira, embora tome os anos 60 como período referencial.
São desse período, por exemplo, as monotipias que Mira realizou em papel de arroz, as quais abrem a mostra. Nelas é possível notar seu apego pelo humor e poesia, em frases colhidas ao acaso, mas que se tornavam pequenas chaves para seu universo íntimo.
Em um deles, escreve "oggi ho disegnato questa porta" (hoje desenhei esta porta) e remete o espectador à sua crença na impossibilidade da representação.
Mira tirava o máximo do mínimo. Logo percebeu que mesmo uma linha poderia ser muito em contato com o vazio. "A linha, na maioria das vezes apenas estimula o vazio. Não estou certa de que a palavra 'estimular' esteja correta. De qualquer modo, o que importa na minha obra é o vazio", disse.
Mira realizou cerca de 2.000 monotipias entre 1964 e 1966. "Sua obra se desenvolve em períodos pequenos, mas de grande criatividade e intensidade. Cada trabalho seu é como uma descarga elétrica que a leva em direção a um outro trabalho", disse a curadora.
A mostra marca ainda o lançamento de um livro homônimo. Organizado por Sônia Salzstein, traz ensaios e depoimentos de críticos e amigos da artista, como Haroldo de Campos, Guy Brett, Alberto Tassinari, Lorenzo Mammi e outros. O livro, em edição bilíngue (português e inglês) e 126 reproduções de obras, custa R$ 40.

Mostra: No Vazio do Mundo - Mira Schendel
Onde: Galeria de Arte do Sesi (av. Paulista, 1.313, tel. 011/253-5877)
Vernissage: hoje, às 19h
Quando: de terça a sexta, das 8h30 às 20h30; sábado e domingo, das 14h30 às 20h30
Quanto: grátis

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