São Paulo, segunda-feira, 30 de setembro de 1996
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Milícia afegã punirá quem fizer a barba

Ordem é para servidores e militares

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A milícia estudantil muçulmana Taleban, que tomou o poder no Afeganistão na sexta-feira, deu 45 dias para que todos os funcionários públicos e militares deixem crescer barba cerrada.
O grupo disse que vai aplicar a punição islâmica para quem desrespeitar a ordem, sem especificar qual seria a punição.
Os funcionários também não terão permissão para usar barba curta. O anúncio, feito na Rádio Cabul (oficial), não especificou o tamanho da barba a ser exigido.
O uso da barba, considerado por alguns muçulmanos ortodoxos uma obrigação, foi a última das medidas adotadas pelo Taleban nos territórios sob seu controle.
Uma das medidas que gerou mais controvérsia e levou a ONU a enviar um representante ao país foi a proibição de que as mulheres trabalhem -até segunda ordem.
Mas o enviado especial da ONU, Norbert Holl, disse ter recebido indicações de que o Taleban está aberto a negociar a imposição de alguns de seus princípios.
A milícia foi formada há apenas dois anos e recebeu apoio da população por restabelecer a ordem nos locais que eram antes atingidos pela guerra civil do país.
Espancamento
Segundo testemunhas, alguns dos guerrilheiros espancaram mulheres nas ruas de Cabul por causa de suas roupas e ordenaram que elas voltassem para suas casas.
A ONU emprega muitas mulheres no Afeganistão e já suspendeu atividades educacionais em áreas tomadas pelo Taleban, grupo surgido nas escolas religiosas de campos de refugiados no Paquistão.
O enviado da ONU diz ter discutido o papel da mulher em um encontro de duas horas com o conselho interino do Taleban.
"Espero que não seja um diálogo com os dois lados presos a princípios. Tenho indicações que embasam a minha esperança", disse.
Segundo funcionários de agências de ajuda internacional no país, os guerrilheiros entraram nas sedes das entidades para checar se as mulheres estavam trabalhando.
Holl não disse se tratou da execução do presidente comunista Najibullah (1986-92) com os rebeldes.
Ele foi retirado de um prédio da ONU em que se refugiava, sendo depois espancado e enforcado. Ontem, o Taleban proibiu que seja feito um funeral para o presidente.
O Taleban também conquistou anteontem a cidade de Charikar, aproximando-se de Jabal-us-Seraj, a cidade onde o presidente Burhanuddin Rabbani estaria refugiado.
Mas o grupo não seguiu avançando ontem em direção aos territórios controlados por Rabbani nem em direção às terras controladas pelo líder guerrilheiro de etnia uzbeque, Abdul Rachid Dostum.
Dostum disse ontem que não reconhecia o novo governo do Taleban. O presidente pediu para que os afegãos resistam à milícia.
O Irã, que se opõe ao Taleban, disse que deve ter havido envolvimento dos EUA nos últimos eventos no Afeganistão.

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