São Paulo, quinta-feira, 2 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Soldado de Israel fere 7 em Hebron

Militar queria sabotar paz

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Um soldado israelense feriu ontem sete pessoas com tiros de fuzil em uma feira de Hebron.
Noam Friedman, 19, aproveitou seu dia de folga no Exército para tentar, segundo suas próprias palavras, sabotar o acordo que vai definir a retirada das tropas israelenses da cidade da Cisjordânia.
O soldado descarregou um pente de balas de seu fuzil de combate M-16 sobre a multidão que fazia compras na feira. Usava roupas de judeus religiosos.
Friedman, recrutado há cinco meses, atirou por cerca de dez segundos na feira da rua dos Mártires. Dois dos feridos estão em situação crítica.
Na delegacia, disse aos repórteres que Abraão (pai da religião judaica) "comprou a Tumba dos Patriarcas por 400 siclos de prata e ninguém vai devolvê-lo".
A Tumba dos Patriarcas, onde 29 muçulmanos foram massacrado por um colono judeu fanático em 1994, é um lugar sagrado para o judaísmo e para o islamismo. Deve ficar sob controle israelense depois que o Exército do país se retirar de 80% de Hebron.
Quando Friedman começou a atirar, os palestinos se jogaram no chão, gritando "massacre". Os soldados e a polícia, pensando que eram os alvos, passaram a responder aos tiros. Um palestino pode ter sido atingido por israelenses.
"Aconteceu bem na minha frente", disse o feirante Walid Kaficheh. "Tentei segurá-lo, mas os soldados o pegaram primeiro. Então os soldados e a polícia apareceram aos montes, atirando", disse Kaficheh à agência "Reuter".
O Exército espalhou soldados e blindados pela cidade para evitar represálias. Líderes palestinos pediram calma à população.
Jovens palestinos queimaram pneus nas ruas de Hebron. Em frente ao hospital para onde foram levados os feridos, jogaram pedras em soldados israelenses.
Repercussão
Os Estados Unidos deploraram o incidente e prometeram que vão continuar a mediar as negociações para a retirada do Exército israelense da cidade, o que, segundo o acordo de paz para a região, estava previsto para acontecer em março do ano passado.
"Nós nos Estados Unidos condenamos esse ato da maneira mais enfática possível", disse Dennis Ross, o enviado norte-americano para as negociações de paz. Ross qualificou o incidente de "terrorismo" e disse que as negociações vão continuar, apesar dos tiros.
O primeiro-ministro israelense, Binyanin Netanyahu, e o presidente da Autoridade Nacional Palestina também condenaram o ataque.
"Quero dizer que estou chocado com o ato cometido em Hebron. Quero denunciá-lo veementemente em nome de todos os cidadãos israelenses", disse Netanyahu à Rádio de Israel.
"Nenhum crime, nenhum ato de violência vai se interpor em nosso caminho para completar a tarefa", disse Netanyahu, referindo-se à assinatura do acordo.

Texto Anterior: Peru e guerrilha radicalizam posições
Próximo Texto: Ataque não interrompe discussões sobre a cidade
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.