São Paulo, domingo, 5 de janeiro de 1997
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Médico dá palestra sobre feridos por fuzis

DA SUCURSAL DO RIO

O uso crescente de fuzis por traficantes de drogas que atuam em favelas do Rio criou uma nova rotina profissional para o médico Rodrigo Gavina, 29: ele vive dando palestras para cirurgiões sobre como lidar com os feridos dessa guerra.
Médico do Hospital da Polícia Militar e chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Municipal Souza Aguiar, no centro, Gavina vem aprendendo na prática a importância de médicos terem noções dos ferimentos provocados por fuzis.
"São conhecimentos de suma importância para quem trabalha em uma emergência no Rio", disse o médico.
'Ninguém está livre disso (desses ferimentos), mesmo um grande empresário sequestrado", afirma.
Arma de guerra
A preocupação de Gavina se justifica pela alta incidência de mortalidade de feridos por balas de fuzis. "É uma arma de guerra, foi desenvolvida para aleijar ou matar."
Segundo ele, tiros de fuzis como o AR-15 provocam, em geral, fraturas complexas e até amputações de membros.
Quando atingem regiões centrais do corpo, como cabeça e tórax, onde existem órgãos nobres, costumam ser fatais.
Até novembro de 1995, Gavina não tinha notícia de pessoas no Rio que tivessem sobrevivido a um tiro de fuzil na região do tórax. Ele havia lido relatos de poucas pessoas que sobreviveram em guerras como a do Vietnã. Nada mais.
Em novembro de 95, porém, apareceu em suas mãos o primeiro baleado vivo.
Gavina foi pegando experiência em operar feridos do gênero. Mas, mesmo assim, continua pequeno o número de sobreviventes.
No hospital da PM e no Souza Aguiar, em 13 meses, ele contabiliza apenas sete pessoas que sobreviveram a tiros de fuzis na região do tórax. Trata-se de uma região delicada do corpo, por causa do coração.
Diferenças
A grande diferença de tiros de fuzis como o AR-15 e o Sig Sauer é a grande velocidade alcançada pelas balas, acima de 600 metros por segundo. Ao bater no alvo, a bala se fragmenta, girando várias vezes.
"A bala dissipa uma energia igual a uma bomba", compara Gavina. A cavidade provocada pelo tiro cria uma pressão negativa, sugando pedaços de roupa, de ossos, pólvora e "todas as impurezas que estão em volta".
São ferimentos de alto teor de contaminação, podendo se tornar um foco de septicemia (infecção generalizada).
"Se pegar em um órgão nobre, na maioria das vezes a pessoa está morta em cinco minutos."

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