São Paulo, domingo, 5 de janeiro de 1997
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O infinito jogo da verdade

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

O astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão e o filósofo Roberto Romano discutiram "A Verdade", no último programa da série "Diálogos Impertinentes", realizado no dia 26 de novembro.
O debate teve mediação do ombudsman da Folha, Marcelo Leite, e de Mário Sérgio Cortella, professor do departamento de teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
A série de debates "Diálogos Impertinentes" tem apoio da Folha, da PUC-SP e do Sesc (Serviço Social do Comércio).
A discussão sobre a existência de verdades absolutas abriu o debate, quando os dois participantes se negaram a fazer o clássico juramento em que se promete dizer "a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade".
"Não juro. Esse tipo de relação de veracidade não é algo que dependa apenas da vontade ou do desejo ou até da retidão do indivíduo. A verdade é algo muito mais complexo, muito mais amplo", disse Romano, professor da Universidade de Campinas.
Outro ponto abordado foi o conceito da verdade aplicado às descobertas e progressos da ciência e a relatividade das verdades científicas. O astrônomo Mourão -o primeiro brasileiro a dar nome a um asteróide- também citou a teoria de Einstein. "Com a relatividade, se provou que tudo é relativo no mundo e isso repercutiu na filosofia toda uma visão muito mais tolerante", disse.
Ele também recorreu à oposição entre ciência e misticismo (religião, astrologia, ufologia etc.) para responder a várias questões.
Filósofo e astrônomo condenaram o uso do marketing por cientistas e pensadores. Segundo os debatedores, isso cria dogmatismos e o que Romano chamou de "a crença no grande especialista".
Segundo ele, o marketing acaba substituindo o papel da discussão e da produção de pensamento.
"Pensar dói, escrever é doloridíssimo, estudar é uma disciplina terrível e isso não se conquista com coisas agora sabor limão", disse Romano.
No final do debate, Romano acabou dando uma definição para a verdade, após ser provocado por um espectador que reclamava da erudição da discussão.
"Acredito efetivamente que a verdade é um processo de pensamento e de expansão da alegria e de expansão da felicidade de pensar e da falta de limite do pensar. Sem injunções de crenças ou de atitudes ideológicas ou coisa parecida", disse.
Em 1997, os debates voltam a ocorrer abordando temas como sexualidade, pátria, ciúme e violência.
(PD)

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