São Paulo, domingo, 5 de janeiro de 1997
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Erros do Peru facilitaram a ação do MRTA

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A LIMA

O governo peruano cometeu erros graves, que permitiram a tomada de reféns na casa do embaixador do Japão em Lima: agiu com triunfalismo em relação à guerrilha, subestimou sinais evidentes de que o MRTA (Movimento Revolucionário Tupac Amaru) estava ativo e falhou na missão de detectar o movimento do grupo, que preparou a ação com três meses de antecedência.
"Quando esse problema terminar, o governo terá de estabelecer as responsabilidades e punir as pessoas que falharam em suas atribuições", disse à Folha o constitucionalista Enrique Bernales, relator especial da Comissão de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas).
Bernales está convencido de que o triunfalismo do governo no combate aos grupos guerrilheiros foi uma das principais razões do sucesso da ação do MRTA.
O general da reserva Sinecio Jarama também é implacável com o governo do presidente do país, Alberto Fujimori.
Em sua opinião, o serviço de inteligência foi incapaz de detectar a movimentação do MRTA, mesmo tendo elementos para tanto.
Jarama lembrou que há alguns meses a polícia descobriu um plano do MRTA para ocupar o Congresso Nacional, um sinal evidente de que o grupo estava ativo.
Indícios
Um dos integrantes da organização que foi preso afirmou que havia outros planos de invasão de lugares estratégicos, que seriam colocados em prática em 1996.
Ainda assim, o governo foi incapaz de detectar a atuação do MRTA, que planejou durante três meses a tomada da casa do embaixador do Japão.
Enrique Bernales acrescentou que todos no governo sabiam que Nestor Cerpa Cartolini, que comanda a ação, era um dos poucos líderes do MRTA que estavam em liberdade.
Jarama, que é especialista em violência política, disse que o governo também falhou ao não ter um plano de reação imediata a uma situação como essa.
Propaganda
A derrota dos grupos guerrilheiros era um dos principais elementos de propaganda de Fujimori.
Em 1992, o presidente adotou uma série de medidas de combate ao terrorismo e conseguiu prender os principais líderes do Sendero Luminoso, o maior grupo guerrilheiro do país, e do MRTA.
Indiretamente, o governo reconheceu algumas de suas falhas na última quarta, quando dois generais responsáveis pelo combate ao terrorismo perderam seus cargos.
O general Máximo Rivera Díaz ocupava a chefia da Dincote (Direção Nacional contra o Terrorismo) e estava entre os convidados do embaixador do Japão que hoje são reféns do MRTA.
Díaz foi afastado e não ganhou nenhum outro cargo na estrutura da Polícia Nacional do Peru. O mesmo aconteceu com o general Juan Carlos Domínguez, que também está entre os reféns.
Domínguez era da Inspetoria Geral da Polícia Nacional, onde era um dos responsáveis pelo serviço de inteligência.
Jarama acredita que a substituição veio tarde.
Em sua opinião, o presidente Fujimori deveria ter punido os responsáveis pelo combate ao terrorismo logo depois da tomada da residência do embaixador do Japão. A mudança realizada na quarta-feira pareceu uma reacomodação dentro da estrutura policial, não uma punição, disse.

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