São Paulo, segunda-feira, 6 de janeiro de 1997
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'O Quebra Nozes' vira 'Noz Dura'

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Sempre um desafio para os criadores modernos, os clássicos provam sua longevidade a cada nova versão.
Um dos mais populares, "O Quebra Nozes" surgiu em 1892 para se tornar uma dos espetáculos mais encenados na época de Natal. À margem dessa trajetória, a obra originalmente baseada num conto de Hoffmann, com coreografia de Marius Petipa e música de Tchaikovsky, já recebeu interpretações hilariantes.
A mais irreverente é a do norte-americano Mark Morris, que deu o título de "The Hard Nut" ("noz dura" ou "pessoa difícil de lidar", no sentido figurado) à versão que realizou de "O Quebra Nozes" em 1992, quando a obra completava 100 anos.
Preservando a música e a essência da história original, "The Hard Nut" mostra uma festa de Natal, só que nos anos 60. Em vez de burgueses alemães, seus protagonistas integram uma família americana cafona e neurótica.
Fantasia, humor e terror convivem neste ambiente, habitado por personagens cujos figurinos foram inspirados nos cartuns de Charles Burns. Em vez de crianças comportadas, há por exemplo o perverso Fritz, que machuca convidados e atormenta sua irmã Clara (a garota que no original ganha o quebra-nozes que vira príncipe).
No lugar de camundongos engraçadinhos, há ainda ratos gigantes cruzando o palco, enquanto um robô arranca o braço de uma boneca Barbie. Para completar, o espetáculo inclui uma adolescente obcecada por sexo.
Segundo os críticos, ao eliminar o charme de "O Quebra Nozes", Morris acabou construindo uma crítica social, embalada numa aura de esperança.
Em suma, com seu "Hard Nut", Morris parece ter provado que um cotidiano aparentemente repulsivo pode estar encobrindo valores universais mais profundos e humanos.
(AFP)

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