São Paulo, terça-feira, 7 de janeiro de 1997
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Uma carta lúcida que vem de Taubaté

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, recebi uma carta simples e lúcida examinando os problemas do futebol brasileiro.
Peço autorização do autor, José Diniz Junior, para publicar trechos que indicam a real situação de penúria do "melhor" futebol do mundo.
Pelo que entendi, o missivista escreve com a autoridade de ex-presidente de um clube do interior, o Taubaté (que, segundo o livro do André Fontenelle e do Valmir Storti sobre a história do Campeonato Paulista, a sair em breve, ficou com o título do Interior de 1919).
José Diniz Junior começa lembrando que o censo divulgado pela CBF indica que existem 30.577 jogadores de futebol profissional no país, para 477 clubes registrados, 64 jogadores para cada time.
Esses números pedem análises mais profundas, mas, grosso modo, a quantia de jogadores é muito grande, o que significa salário baixo -quando é possível pagar salário.
Observação minha: desses 477 times, só uma minoria está bem financeiramente.
O número de times comparado com o de jogadores aparenta ser pequeno, mas, basta analisar a situação de cada um desses times (passivos financeiros, dívidas enormes com a Previdência, incapacidade de investimento e até mesmo de custeio etc.) para ver que há mais oferta de times de futebol do que mercado para absorvê-los.
José Diniz Junior dá um triste exemplo: o Esporte Clube Taubaté teve um público médio para seus jogos de 150 pessoas. Isso mesmo: menos de 200 torcedores por jogo, para uma população local de cerca de 300 mil habitantes.
É possível contra-argumentar que o Taubaté não fez uma campanha capaz de sensibilizar os seus torcedores, então, o José Diniz não pode reclamar.
Mas, infelizmente, a realidade está muito mais para o EC Taubaté do que para os eventuais sucessos de times do interior de São Paulo (e olhe que estamos falando da região futebolística mais rica do país).
Como lembra o ex-presidente do time da histórica cidade do Vale do Paraíba, no Estado de São Paulo temos CINCO divisões do Campeonato Paulista, um evidente exagero só sustentado pelas conveniências políticas (e as de outras naturezas também) dos dirigentes federativos e clubísticos.
Aliás, com a miopia que os caracteriza, diretores de times acham que ficam fortes sendo comensais da Federação, quando é a Federação Paulista que se fortalece com a fraqueza dos clubes do interior.
A imensa oferta de jogos pela televisão compete desigualmente com os jogos no interior.
O fracionamento em tantas divisões debilita os times e cria um estoque de jogos de futebol para o quais não há consumo.
Times fracos, dirigidos por aqueles que fazem do futebol o trampolim mais fácil para a política (com a exceção de uns poucos abnegados), são o caldo de cultura que sustenta as sucessivas más gestões da Federação Paulista de Futebol.
Quando eu era menino, cansei de ver estádios cheios em Jaboticabal, Bebedouro, Araraquara, Taquaritinga, Rio Preto (com dois times), Ribeirão Preto (com dois times), Campinas (com dois times).
Hoje, o futebol no interior é uma festa para dirigentes.

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