São Paulo, quarta-feira, 8 de janeiro de 1997
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Mecanização avança e corta emprego

ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo menos 1.500 trabalhadores rurais deixarão de ser empregados este ano, na safra paulista de cana, devido ao avanço da mecanização da colheita.
A entrada de colheitadeiras nesta safra, que começa em maio, será recorde. Mais de 40 máquinas começam a operar em São Paulo, maior produtor de açúcar e álcool do mundo.
Nos últimos 22 anos, a mecanização eliminou 19 mil empregos na colheita da cana, o que representa, em média, 863 vagas extintas por safra.
Até a metade da colheita passada operavam em todo o Estado cerca de 500 máquinas de colher cana picada, inteira, crua e queimada.
Esses números constam de um levantamento feito pela Canaplan, empresa de consultoria da área canavieira, para a AIAA (Associação das Indústrias de Açúcar e de Álcool do Estado de São Paulo).
Pressão ambiental
"Estamos sendo forçados a mecanizar o corte da cana crua por causa das pressões ambientais", afirma Maurílio Biagi Filho, diretor da Usina Santa Elisa, ao se referir às ações contra as queimadas.
Estimativa do Ministério Público mostra que em todo o Estado de São Paulo há cerca de 180 ações contra a queima da cana para o corte (leia texto abaixo).
Com a mecanização, a Santa Elisa, em Sertãozinho (330 km a noroeste de São Paulo), vai deixar de empregar 500 cortadores de cana este ano.
A empresa comprou dez novas máquinas para a safra 97 e pretende mecanizar 60% de sua produção até o ano 2000.
"O custo do trabalhador rural, incluindo encargos sociais, está alto e tem contribuído para acelerar a mecanização da lavoura", diz Leontino Balbo Junior, diretor agrícola da Usina São Francisco, de Sertãozinho (SP).
Um trabalhador recebe cerca de R$ 300 mensais e colhe em média 7 t de cana queimada por dia. A máquina, que custa em torno de US$ 230 mil, colhe 350 t em 8 horas.
A operação da máquina envolve 12 profissionais qualificados.
"Vamos ampliar 8% a mecanização por safra. Para isso, estamos formando cortadores para operar as máquinas", diz Mário Chiarinelli, gerente de produção da Usina Nova América, em Tarumã (SP).
Para Marcelo Pedroso Goulart, promotor de Justiça de Ribeirão Preto (SP), o governo e as usinas devem buscar alternativas para reciclar a mão-de-obra, visando reduzir o impacto social da mecanização da colheita da cana.

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