São Paulo, quarta-feira, 8 de janeiro de 1997
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Salão de Artes da Bahia se destaca com fórmulas simples

Brígida Baltar e Roberto Bethônico são destaques

CELSO FIORAVANTE
EM SALVADOR

O Salão de Artes MAM-Bahia, que termina em 23 de fevereiro, é um exemplo de iniciativa bem-sucedida nas artes plásticas contemporâneas. Em sua terceira edição, o evento anual se firma com fórmulas e critérios simples na seleção e premiação de convidados.
O primeiro critério louvável e absolutamente necessário é a premiação. Afinal, artista brasileiro não vive de brisa e não é interessante que passe a vida procurando alternativas para a falta de mercado. A premiação dá fôlego ao artista e torna o evento mais cobiçado e competitivo.
O Salão concede seis prêmios (de R$ 10 mil cada) e seis menções especiais (de R$ 2 mil cada). Nesta edição foram premiados Brígida Baltar (RJ), Elisa Bracher (SP), Elias Muradi (SP), Marepe (BA), Paulo Pereira (BA) e Roberto Bethônico (MG).
As menções foram para Martinho Patrício (PB), Nydia Negromonte (MG), Alexandre Nóbrega (PE), Eduardo Coimbra (RJ), Herivelton Figuerêdo (BA) e Ricardo Ventura (RJ).
O segundo trunfo do salão é o número limitado de artistas, que não pode ultrapassar 70. Isso permite uma melhor disposição das obras nos quatro espaços expositivos do Solar do Unhão, a sede do MAM-Bahia, em Salvador.
Nesta edição foram selecionados 69 nomes entre 1.007 inscritos (252 da Bahia, 144 de São Paulo, 141 do Rio e 102 de Minas Gerais). Dos 69 escolhidos, 21 são baianos.
Também é interessante notar que das 1.007 inscrições, 528 foram pinturas, uma prova de que -pelo menos no Brasil-, se a arte se desmaterializou na teoria, na prática os artistas continuam pintando.
O mineiro Roberto Bethônico, que apresentou na mostra "Antarctica Artes com a Folha" uma instalação realizada com ovos e sal grosso, optou por desenhos em ponta seca, pó de ferro e gordura sobre papel na mostra baiana e foi premiado. Bethônico também recebeu recentemente uma menção honrosa na Bienal de Cuenca, também com desenhos.
Seus trabalhos seguem a rica tradição do traço mineiro e trazem um rigoroso jogo de cor, arquitetura e relevo que se liga a uma memória coletiva de seu Estado, ligada à terra e ao ferro.
Outro premiado que participou do "Antarctica" é Marepe. Em sua instalação "Casamento", trabalha com olhar crítico e politizado imagens retiradas da cultura de rua e da formação barroca baiana.
A carioca Brígida Baltar também se destaca. Suas esculturas de tijolos cavoucados discutem, com poesia rara, questões como o feminino, a sexualidade e a criação.
Deixaram a desejar os selecionados em fotografia, que se mostraram mais como virtuoses da técnica que artistas plásticos (uma exceção é Luis Santos, mas esse está mais ligado ao fotojornalismo que à fotografia artística).
Também deixaram a desejar algumas instalações, como a de Edney Antunes, que parecia mais preocupado com denúncias políticas e sociais que com discussões e pesquisas estéticas.

Mostra: 3º Salão MAM-Bahia
Onde: Museu de Arte Moderna da Bahia (Solar do Unhão, av. Contorno, sem número, 071/321-0222)
Quando: até 23 de fevereiro

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