São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 1997
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À SOMBRA DA TRAGÉDIA

As calamidades decorrentes das chuvas que atingem Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo estarrecem a sensibilidade não apenas pelo elevado custo em vidas humanas imposto pela tragédia, obviamente o mais dramático e para o qual não há ressarcimento possível.
Esse tipo de infortúnio no Brasil costumar produzir também danos, não muito menos inestimáveis, de ordem cultural e ambiental.
Apesar das conhecidas características geográficas da região em que se encontra Ouro Preto (MG), por exemplo, pelo menos três prédios históricos e uma igreja ainda estão totalmente expostos a danificações por deslizamentos de encostas.
Sendo uma cidade considerada pela Unesco patrimônio cultural da humanidade desde 1980, era de se esperar que, ao menos após um período de 17 anos, suas edificações já estivessem mais protegidas. A recente tragédia trouxe à luz a precariedade de sua condição: a salvaguarda desse precioso patrimônio parece depender apenas da intensidade das intempéries e não de decididas ações organizadas, públicas ou privadas.
A mesma falta de estratégias preventivas que, no nível sanitário permitem evitar, por exemplo, surtos de leptospirose e hepatite, cuja ocorrência é altamente provável durante as enchentes, infelizmente pode ser constatada também em relação ao chamado patrimônio histórico.
Outra amostra da incúria com que se trata do patrimônio brasileiro, desta vez na área ambiental, foi o incêndio na ilha Redonda, no arquipélago de Abrolhos, debelado pelo Ibama somente após oito dias. Na falta de recursos suficientes para combater as chamas, partes significativas da importante fauna e da flora locais foram rigorosamente dizimadas.
O que se constata nesses casos, de lamentável prejuízo a riquezas nacionais, é que o poder público acostumou-se a agir, muitas vezes tardiamente, na esteira das calamidades.

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