São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997
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Gênio da lâmpada faz 150 anos

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PRA A FOLHA

O século 20 seria uma mera continuação do 19 se não fosse pelas invenções de um norte-americano nascido faz 150 anos. Thomas Alva Edison foi uma figura-chave na invenção, ou no aperfeiçoamento, da lâmpada elétrica, da geração e transmissão de eletricidade, dos discos, do cinema e do telefone. Tire tudo isso, e o que sobra do século 20?
Não foi por nada que Edison virou o modelo do Professor Pardal, o inventor capaz de qualquer coisa dos quadrinhos de Walt Disney.
Edison não era um cientista, não entrou para a história por ser um grande descobridor de novos conhecimentos. Ele era essa figura até então mais rara, o sujeito capaz de utilizar os conhecimentos existentes para obter efeitos práticos de alto valor comercial.
Mas podia acontecer que ele também avançasse a ciência. Geralmente a tecnologia, ou "ciência aplicada", surge da utilização dos conhecimentos científicos para fins práticos.
Com Edison aconteceu o contrário. A partir de seus experimentos de objetivo prático, surgia novo conhecimento. O inventor foi o primeiro a notar a liberação de elétrons pelo calor de um filamento metálico, o chamado efeito termoiônico, também conhecido como efeito Edison.
Ele não foi o primeiro a acender uma lâmpada incandescente, mas foi o primeiro, em 1879, a desenvolver a primeira delas capaz de ser comercializada.
Como não adianta nada ter lâmpada sem ter eletricidade, ele criou em 1882 a primeira usina elétrica, em Nova York.
Autodidata
Edison nasceu em Milan, Ohio, em 11 de fevereiro de 1847. Ele era um autodidata. Só passou três meses dentro de uma escola, mas foi ensinado pela mãe e, principalmente, lia muito.
É difícil achar um melhor exemplo de carreira que os norte-americanos veneram pela expressão "self-made man", o sujeito humilde que se torna milionário pelo esforço próprio.
Ele começou a trabalhar aos 12 anos de idade vendendo jornais a bordo de trens. Em uma das estações aprendeu a operar um telégrafo, e já aos quinze anos gerenciava um escritório de telegramas.
Seu começo como inventor foi a criação de um método para facilitar a repetição da transmissão de mensagens telegráficas.
Perseverança e paciência eram suas características básicas, como demonstraram os múltiplos e cansativos experimentos feitos a partir de 1878 com diversos modelos de filamentos para lâmpadas. Diferentes voltagens, diferentes materiais foram testados lenta e gradualmente até se atingir, em 21 de outubro de 1879, uma lâmpada que brilhou por 40 horas consecutivas.
A primeira usina geradora de eletricidade instalada por ele em Nova York em 1882 era capaz de gerar energia para 7.200 lâmpadas.
Mito do capitalismo
A capacidade de combinar sua inventividade com agudo tino comercial fez dele um dos mitos do capitalismo norte-americano. Ele também atraía talento. Ninguém menos que o popularizador do automóvel, Henry Ford, foi funcionário da Edison Illuminating Company antes de criar a empresa que existe até hoje.
Edison não era imune a enganos, porém. Ele apostava na corrente elétrica direta, apesar de estar provado que a corrente alternada permitiria maiores voltagens na transmissão de energia.
Por mais espetacular que tenha sido iniciar o século da eletricidade popularizada, foi também graças ao inventor americano que sons puderam começar a ser gravados. Em 1877 ele inventou o fonógrafo.
Edison também deixou sua marca na história do cinema, com a invenção do projetor que utilizava filmes flexíveis de celulóide.
A telegrafia foi uma das áreas em que ele mais atuou. Sua várias invenções automatizando o envio e a recepção de mensagens possibilitaram um aproveitamento muito maior das linhas de transmissão.
O telefone, outra das importantes invenções do século 19 que revolucionaram o 20, foi obra de outro americano, Alexander Graham Bell, mas Edison colaborou no seu desenvolvimento com a invenção de um microfone de carbono.
Entre outras invenções dele estão uma bateria elétrica, um novo fonógrafo que usava discos e uma agulha de diamante em vez do cilindro do modelo original, e o mimeógrafo.
Mas mais ainda que inventar, Edison sabia comercializar suas criações. Em 1888 o inventor croata-americano Nikola Tesla, ex-empregado da Edison Company, desenvolveu um motor elétrico de corrente alternada.
A nova tecnologia suplantaria a insistência de Edison com a corrente contínua, mas Tesla nunca soube capitalizar seu talento como o antigo patrão. Edison não foi apenas um inventor genial. Era um capitalista. É por isso que seu laboratório se tornou parque nacional. Já Tesla foi homenageado pelos físicos. Seu nome se tornou a unidade usada para medir a indução magnética, abreviada "T".
Entre inventos que mudaram o mundo e outros que aperfeiçoaram processos já existentes, Edison patenteou mais de mil invenções. O maior inventor da história morreu em 18 de outubro de 1931.

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