São Paulo, quarta-feira, 15 de janeiro de 1997
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Mostra resume sonhos de Pierre e Gilles

BETINA BERNARDES
DE PARIS

A Maison Européenne de la Photographie, em Paris, oferece uma oportunidade única de entrar no particular universo da dupla de fotógrafos franceses Pierre e Gilles.
A casa promove uma retrospectiva de 20 anos de trabalho dos dois artistas, cobrindo desde seu encontro, em 1976, até as obras realizadas em 1996. São cerca de cem fotos, que ocupam um andar inteiro e uma sala proibida a menores no subsolo da instituição.
A proibição se deve aos nus e invocações sadomasoquistas da série "Os Prazeres da Floresta". A sala foi transformada em uma selva estilizada. Nas fotos, aparecem modelos nus presos a árvores por correntes, sangue escorrendo e detalhes picantes do corpo humano.
Embora a exposição faça parte da programação do Mês da Fotografia, é difícil classificar em que domínio da arte os dois se situam. Pierre e Gilles são sobretudo artistas plásticos.
No ateliê da dupla, o clique fotográfico é apenas o começo da construção de uma imagem, utilizando pintura, desenho, recortes e brilho, muito brilho.
Como emblema de toda a exposição, há um coração e uma pomba em purpurina prateada, sinalizando o mundo kitsch dos artistas.
No primeiro andar, as paredes de uma sala inteira foram cobertas com lantejoulas vermelhas, para servir de adorno aos quadros.
Várias fotos aparecem emolduradas por flores que lembram os colares de havaina usados no Carnaval brasileiro.
A dupla usa e abusa do brilhante e do fantástico. Os retratos de celebridades refletem o imaginário dos dois. Madonna aparece tocando flauta sentada em um balanço de guirlandas; Catherine Deneuve é uma deusa etérea, Boy George vem com um visual krishna.
O décor idílico não poupa Jean-Paul Gaultier, Nina Hagen e Marc Almond, apenas algumas das personalidades que se fizeram objeto dos sonhos dos dois.
Nos auto-retratos, o humor marca presença. Em "Recém-Casados", Pierre está vestido de noiva e Gilles é o noivo de smoking. Também aparecem como cosmonautas e "James Bond Boys".
É possível seguir a exposição pela ordem cronológica do trabalho. Tudo começa com os retratos em fundos coloridos, batizados de "As Crianças das Ilhas" e "Os Rapazes de Paris".
Aí já estão algumas pistas que conduzem à série "Pleureses", uma sequência de mulheres com lágrimas nos olhos, recurso usado em algumas fotos anteriores.
A cultura oriental aparece nas sequências "Príncipes e Princesas" e "Deuses e Deusas".
O olhar da dupla sobre a religião católica vem na maior série exposta: "Os Santos e as Santas".
São Pedro, por exemplo, é um modelo de corpo escultural, preso a uma cruz sobre fundo luminoso.
A Aids também tem sua representação, "O Triângulo Rosa", em que um modelo aparece cercado de velas e arame farpado.
A mostra tem causado filas na Maison. Dia 26 de janeiro é a última oportunidade para penetrar no ideário de Pierre e Gilles.

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