São Paulo, quarta-feira, 15 de janeiro de 1997
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"Madonna vai surpreender", diz Parker

ROBERT MORGAN
ESPECIAL PARA A FOLHA

Madonna, já uma lenda viva por conta própria, é a estrela de "Evita", um dos filmes mais aguardados do ano, no papel de outro ícone, Eva Perón, com o qual se identificou profundamente.
Se ela está ou não apostando sua própria carreira nesse filme, não se sabe -mas é evidente que o sucesso dessa versão para o cinema do musical de Andrew Lloyd Webber e Tim Rice, recordista de bilheteria no mundo inteiro, é muito importante para ela.
Alan Parker ("Mississipi em Chamas", "The Commitments"), responsável pelo roteiro e direção de "Evita", não esconde seu entusiasmo quando revela como foi trabalhar com a "material girl".
"O desempenho de Madonna vai nocautear os espectadores, e não estou dizendo isso apenas porque fui eu o diretor", diz Parker.
"A única coisa que me preocupou foi a escolha de um ícone para o papel principal -uma celebridade cuja imagem pessoal poderia, talvez, atrapalhar o papel. Mas acredite: você não verá Madonna na tela, verá Evita. Acho que mesmo as pessoas que têm as opiniões mais negativas sobre Madonna terão uma surpresa."
Desafios
Se Madonna revelou-se o tipo de estrela com a qual Parker sonhara para "Evita", a produção enfrentou uma série de desafios, desde reações violentamente negativas durante as filmagens na Argentina até a gravidez de Madonna.
"Quando chegamos a Buenos Aires", lembra Parker, "parecia que em cada muro havia uma pichação nos mandando voltar para casa. Muitas diziam: 'Viva Evita! Fora, Madonna!'. Lembro-me de ter visto a palavra 'morte' mais de uma vez. Admito que cheguei a sentir medo. Temi que fôssemos expulsos do país antes mesmo de começar."
"Foi muito duro", continua, "mas pouco a pouco fomos conquistando os argentinos. No final das filmagens, a maioria das pichações já tinha desaparecido."
A maior façanha de Parker foi conseguir o balcão do palácio presidencial argentino, em Buenos Aires, para ser a locação onde Madonna canta "Don't Cry for Me, Argentina".
"Uma noite eu, Madonna, Antonio Banderas e Jonathan Pryce recebemos um convite do presidente Carlos Menem. Foi uma cena surreal. Ele nos serviu pizza, dizendo que era a melhor do mundo.
"No dia em que filmamos a cena, saí no balcão com Madonna e havia milhares de extras lá embaixo, carregando bandeiras peronistas. De repente percebi que estávamos exatamente no mesmo lugar onde Evita costumava ficar. Foi um momento profundamente comovente. A sensação que tive era de estar vivendo a situação real. Como diretor, foi um dos maiores privilégios de minha carreira."
Soldado
Parker conta que mesmo durante os momentos mais difíceis Madonna nunca perdia o ânimo: "Ela era um verdadeiro soldado. Chegava ao set às 6h30 da manhã, era totalmente profissional. Nunca vi ninguém trabalhar tão duro quanto ela."
Parker sabia do compromisso profissional de Madonna desde a campanha que ela montou para ser a estrela de "Evita".
"Ela me mandou uma longa carta manuscrita dizendo que era a única pessoa capaz de fazer o papel e que dedicaria seu tempo inteiro a ele. Prometeu que interromperia todo o resto de sua carreira até a conclusão do filme."
Parker deixa claro que, apesar de "Evita" ser um filme baseado numa peça musical, o roteiro que escreveu está profundamente embasado nos fatos históricos.
"Se eu tivesse que descrever a vida de Evita em uma só frase, diria: garota pobre vai a Buenos Aires para tentar ser atriz de cinema, casa-se com o presidente da República, vira um ícone político e de mídia em seu país e morre aos 33 anos de idade."
"Soa como uma história inventada por um roteirista de Hollywood. Mas é verdadeira", conclui.
Contratempos
Parker se viu também diante da gravidez inesperada de Madonna, sem falar em um casamento inesperado: o coadjuvante Antonio Banderas afastou-se brevemente da produção para se casar com Melanie Griffith, também grávida.
"Casamentos e bebês podem soar românticos", diz, "mas, para mim, representaram dificuldades -felizmente a barriga de Madonna só começou a aparecer no final das filmagens. Quando Banderas me falou do casamento, pensei: 'Isto está ficando ridículo'."
Será que "Evita" foi um desafio capaz de consolidar ou acabar com a carreira de Madonna? Parker ri diante da pergunta. "Acho que sua carreira como cantora vai continuar, quer este filme seja considerado grande ou não. Madonna sempre será uma estrela."

Tradução de Clara Allain

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