São Paulo, quinta-feira, 16 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Tiros em sem-terra foram a curta distância

ESTANISLAU MARIA

ESTANISLAU MARIA; ABNOR GONDIM
DA AGÊNCIA FOLHA, EM OURILÂNDIA DO NORTE

Avaliação é de legista que assinará laudo da morte de três trabalhadores rurais assassinados no Pará

ABNOR GONDIM
O laudo médico sobre os três sem-terra mortos na última segunda-feira na fazenda Santa Clara, no sul do Pará, poderá comprovar que eles foram alvejados a curta distância na cabeça e no peito. O chefe da perícia do Instituto Médico Legal de Belém, Luiz Carlos Loureiro, que assinará o laudo, disse que os tiros devem ter sido disparados a 50 cm.
Os sem-terra mortos moravam em Ourilândia do Norte (900 km de Belém) e não eram ligados ao sindicato dos trabalhadores rurais ou ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
As vítimas foram mortas com tiros de revólver 38 e de armas de caça do tipo espingarda calibre 12.
Segundo a polícia, não foi encontrada nenhuma arma de fogo junto aos corpos, mas apenas terçados (espécie de faca) e facões.
A Agência Folha viu os corpos no hospital da cidade e constatou ferimentos na altura do peito e na cabeça. Um dos corpos apresentava sinal de tiro no olho esquerdo.
Os legistas Loureiro e Eualt Oliveira foram enviados de Belém para a necropsia. Oliveira confirmou que os três sem-terra foram mortos com tiros no tórax e na cabeça.
Todos os tiros foram disparados de frente. Ele não pôde dizer o número, pois a maioria dos ferimentos foi causada por espingardas, que deflagram vários fragmentos de chumbo. Em um dos corpos, foram retirados 17 estilhaços. Em outro, 15, e do terceiro, 3.
Gervásio José Camilo, advogado do dono da fazenda, Edvair Vilela Queiroz, disse que houve uma emboscada de sem-terra contra funcionários da fazenda. Segundo ele, os funcionários revidaram os tiros.
O delegado Roberto Teixeira, responsável pela Delegacia de Conflitos Agrários, abriu inquérito ontem, ouviu parentes das vítimas e apreendeu uma espingarda na sede da fazenda.
"Ainda não temos indícios sobre o que aconteceu. Não há famílias reclamando novos corpos, não sabemos se houve tiroteio ou outro tipo de conflito", disse.

Texto Anterior: MST ocupa três fazendas no sertão de Sergipe
Próximo Texto: Proprietário defende ação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.