São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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Passageiros são alvo de 'disputa' em SP

JUNIA NOGUEIRA DE SÁ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Assim como a maior parte das capitais e grandes cidades brasileiras, onde o sistema de transporte público sempre foi falho, São Paulo tem milhares de peruas de lotação clandestinas rodando nas ruas.
Mais do que isso: rodando com passageiros satisfeitos por não estar viajando em pé e por conseguir chegar mais depressa, pagando o mesmo que cobram ônibus lotados e lentos.
Para a Secretaria Municipal dos Transportes, que intensificou a fiscalização sobre as peruas clandestinas desde o início do ano -mais de 200 já foram apreendidas até agora- elas são 3.000.
Para o sindicato das empresas de ônibus, Transurb, com quem as peruas concorrem diretamente, quase 5.000. Para os perueiros, que começam a se organizar em associações e defender seus direitos, perto de 13.000. Há, ainda, 1.988 peruas legalizadas na cidade.
A diferença nos números evidencia o tamanho do problema. Os perueiros dizem que a secretaria e os empresários subestimam sua atuação para diminuir o poder de barganha dos clandestinos. A secretaria e os empresários afirmam que os perueiros clandestinos querem mostrar mais força do que têm.
Numa coisa todos concordam: as peruas clandestinas não podem continuar assim. A secretaria fala em "profissionalizar" o serviço, o que significa admitir uns poucos clandestinos como legais, mas não se sabe ainda quantos.
O Departamento de Transportes Públicos (DTP), órgão da secretaria que fiscaliza as peruas e autua as ilegais, está estudando perto de cem pedidos de credenciamento e promete dar uma resposta nesta semana. Diz, ainda, que vai aceitar novos pedidos. Os credenciamentos foram fechados em julho do ano passado, com 188 pendentes.
"O sistema clandestino está crescendo desordenadamente, e é preciso coibir isso de todas as formas", diz Luiz Thadeu Meirelles Brandão, diretor do DTP. Os empresários querem tirar os clandestinos da rua, ou receber mais por passageiro transportado, para compensar os prejuízos que dizem sofrer por causa das peruas.
Andréia Cristina Libetanz, 18, casada, um filho, se arrisca numa perua clandestina. Ela faz 12 viagens diárias na zona sul, começando às 5h da manhã. Leva um dos irmãos menores como cobrador.
Optou pela perua porque não queria mais ser balconista ou garçonete, nem foi aceita no empresa onde o marido é entregador. Ele ganha R$ 1.300 por mês, e ainda tem os descontos de lei. Ela fatura R$ 2.000 líquidos.

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