São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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Para economistas, 'stop' deve vir em breve

LUIZ ANTONIO CINTRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando Brasília tiver resolvido o "problema" da reeleição, o governo terá de encarar uma outra questão, esta sim de interesse nacional: enquadrar o ritmo de atividade da economia e deixá-lo compatível com as restrições externas do Real.
Pelo raciocínio, o país não conseguirá conviver com o atual ímpeto de crescimento porque este afeta diretamente a balança comercial, já que o real continua valorizado em relação ao dólar.
A avaliação é de economistas ouvidos pela Folha, que concluem na mesma direção: mantido o atual ritmo, a inflação não recrudescerá, como ocorreria anos atrás, mas os déficits comerciais do país (importações maiores que exportações) irão para o espaço.
Não que o aquecimento da economia não seja importante agora -e passará a ser assim que a emenda da reeleição for apreciada pelo Congresso. O problema, como costuma acontecer em Brasília, é de estratégia política.
Conter a economia quer dizer elevar juros, dificultar o acesso ao crédito e tornar os importados mais caros para o consumidor. Ou seja, conter a economia quer dizer tomar medidas impopulares, por isso o governo ainda não agiu, avaliam os economistas.
Para Paulo Nogueira Batista Jr., professor da FGV, alguns números confirmam a tese de aquecimento excessivo da economia.
Segundo dados da CNI (Confederação Nacional da Indústria), informa o economista, a utilização da capacidade instalada no setor industrial bateu 79%, entre os meses de setembro e novembro de 96, já descontados os efeitos sazonais.
Para se ter uma idéia do que significa esse índice, no primeiro trimestre de 95, o uso da capacidade instalada era de 80%. Nessa ocasião, o governo tomou medidas duríssimas, elevando juros e tornando o crédito difícil.
"O governo precisará conter a economia novamente, mas não na mesma intensidade, porque em 95 havia a crise do México e a economia estava ainda mais aquecida."
O ex-ministro e atualmente consultor Mailson da Nóbrega concorda que é impossível manter o atual ritmo de crescimento.
Ele chegou a imaginar que a economia se estabilizaria "naturalmente" -por causa de estoques altos e crédito como forma de financiamento de fôlego curto.
"Como o desaquecimento não está acontecendo, o governo precisará frear a economia, porque o ritmo atual é incompatível com o equilíbrio externo."
Odair Abate, economista do Lloyds Bank, também acredita que a economia está "mais aquecida do que deveria".
"O governo terá de 'dar uma força' para o desaquecimento." Ele dá números para reforçar a idéia.
No primeiro semestre de 95, a economia crescia 7% ao ano e o déficit comercial foi de US$ 4,3 bilhões. No segundo semestre de 96, a situação foi parecida, estima: para um crescimento também de 7%, um déficit de US$ 5 bilhões.

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