São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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Fazendo cabeças

DEBORAH GIANNINI; MARIANE COMPARATO; TOMAZ AUTRAN; ANA FRANCISCA PONZIO; NELSON ASCHER; NELSON DE SÁ

(...)

Washington Olivetto, 45, é presidente e diretor de criação da W/Brasil, terceira maior agência de publicidade do país em faturamento e a mais conhecida e desejada pelos anunciantes, segundo pesquisa publicada pela revista Meio & Mensagem em 96.
Olivetto ganhou 44 leões no Festival de Cannes, na área de comercial de televisão (acima foto do comercial do "primeiro sutiã", da Valisère), e é o único membro brasileiro da equipe do Clio Awards, o Oscar da propaganda.
"Poucas pessoas conseguem descobrir para que vão servir na vida. Com 15 anos sabia que queria escrever para todas as mídias e trabalhar com vendas. Encontrei isso na publicidade. Antes dos 19, já era um publicitário conhecido. Quando você faz sucesso muito jovem fica bobo na hora certa. Acho honroso influenciar tanta gente, mas não fico deslumbrado. É uma enorme responsabilidade. A partir do momento que você se torna um exemplo, tem a obrigação de ser um bom exemplo."

Costanza Pascolato, 57, empresária, consultora da Tecelagem Santaconstancia (ao lado, estampas de tecidos da nova coleção de inverno da tecelagem). Começou na revista Cláudia, na época a maior revista de moda do país, no começo dos anos 70, justamente quando emplacou a moda do "prêt-à-porter", e ficou até 86. Hoje, Costanza é referência para o mundo da moda e faz editoriais internacionais para a revista Vogue.
"Fui uma dondoca cujo papel era ser mulher de banqueiro. Quando decidi trabalhar, alguém lembrou que eu podia fazer produção de moda. Acho que hoje sou uma espécie de referência. Ainda não entendi direito. Só sei que vou fazendo o meu negócio e parece que deu certo. Talvez, na minha carreira, não tenha sido das melhores pessoas que já houve ou que vá haver, mas sei que tenho o 'físico do rolo' (physique du rôle: a aparência certa). Acho que sou um produto da mídia, ela me fez."

Sig Bergamin, 42, arquiteto e decorador, já participou de seis Casa Cor. Acabou de concluir a casa do empresário José Ermírio de Moraes Neto em Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Fez, entre outros, a casa de Roberto Irineu Marinho, o bar Hemingway e a pizzaria Barn (ao lado), que ocupa o lugar do extinto restaurante Ciao. Agora, está fazendo a parte social do Hotel Renaissance.
"Acho que pelo fato de eu ser arquiteto e decorador e fazer coisas do tipo Casa Cor, que sai em capa de tudo quanto é lugar, sou um pouco formador de opinião: por uma questão de gosto, e por trabalhar muito na cidade. Isso faz com que as pessoas sempre estejam olhando, sempre vira notícia. Os meus projetos destacam-se do bê-á-bá, são sempre coloridos, causam polêmica. Tenho um estilo completamente eclético, a pessoa nunca sabe que estilo vai encontrar. Às vezes sou criticado, às vezes sou elogiado. Isso é bom: se eu atraísse todo o mundo, seria muito chato."

Nina Horta, 59, banqueteira, autora do livro "Não é Sopa" (ao lado), que reúne crônicas sobre comida, e colunista da Folha.
"Acho que consegui trazer a comida para um campo mais amplo, onde entram sociologia, filosofia e fogão a lenha. É importante, para isso, prestar atenção no cotidiano. Por exemplo, fiquei muito tempo procurando a jambu, planta de Belém-do-Pará que acreditava ser raríssima. Outro dia, estava andando pelas ruas do meu bairro, e encontrei a tal da jambu em vários canteiros que viraram matagal... Acho que arroz com feijão bem-feito é tão bom quanto caviar russo. Hoje estou tentando entender, por meio das crônicas, por que todo o mundo quer emagrecer e por que todo o mundo continua gordo... Esse negócio de gordura está chegando ao clímax: comer se transformou em um pecado. Hoje, se uma pessoa come uma caixa de chocolate, sente-se mal. Comida é um assunto muito ligado à gente, emotivamente e culturalmente: quando você está velho, lembra das comidas da infância."

Rogério Fasano, 34, dono dos restaurantes Fasano e Gero. Descendente de uma família de "restaurateurs", está há 12 anos na profissão. No ano passado, ganhou um prêmio pelo livro "O Restaurante Fasano e a Cozinha Italiana de Luciano Boseggia", que escreveu em parceria com o jornalista Mino Carta. Neste ano, está prevista a construção do Hotel Fasano, nos Jardins, luxuoso projeto de apenas 50 suítes. (Acima, o prato XXX, sucesso no Fasano).
"Acho que não é influência; é mais uma questão de troca. Acredito que, especializando-se, você ganha a confiança das pessoas. Portanto, cada vez mais você tem a liberdade para propor um prato diferente. Acredito pouco em escola, e sim numa cozinha com bases clássicas: esse conceito do novo restaurante Fasano veio da geração do meu pai, diferente da do meu avô. Mudamos o menu em função do que há de novo no mercado. Por isso, tão fundamental quanto um chefe é a busca de matérias primas que só você tenha."

Otávio Piva de Albuquerque, 44, dono do Empório Santa Maria, loja de gastronomia com produtos importados, e do Domaine Sainte-Marie (ao lado), a 1.a loja exclusiva de vinhos no país, com 1.400 rótulos, entre nacionais e importados. Ao lado da adega está instalado o Café Domaine, onde os garçons aconselham o vinho ideal, na temperatura certa, para o prato escolhido do menu elaborado por Emmanuel Bassoleil.
"A concepção das duas lojas é a mesma: trazer produtos de alta qualidade que o brasileiro costumava consumir no exterior, ou seja, desenvolver uma gastronomia de primeiro mundo. Não é a procura, é a oferta que faz o mercado. As pessoas diziam que não tinha mercado para consumir vinhos no Brasil; foi uma idéia bastante arrojada criar uma oferta que não existia. O Domaine Sainte Marie existe desde 95 e as vendas aumentaram em 400% no ano passado. Hoje as pessoas nos procuram para fazer adega: virou moda."

Precursor do estilo "clean" no Brasil, o arquiteto Aurélio Martinez Flores, 68, é o criador de projetos como os edifícios da CBMM (Companhia Brasileira de Mineração e Metalurgia), da Galeria Escultura, da DPZ, do restaurante Gero, das agências do Unibanco e da Casa da Cultura, em Minas Gerais (foto ao lado).
Martinez inaugurou em 1970 uma das primeiras lojas de móveis e acessórios no país, a Interdesign, que existe até hoje. Há 37 anos no Brasil, formou-se no México em Arquitetura, onde nasceu, foi para Nova York e já desembarcou em São Paulo como diretor de design e móveis da loja Forma. Atualmente, está fazendo o novo escritório da produtora de filmes Conspiração.
"Seria falta de modéstia falar que eu influencio o gosto. Não acho que meu trabalho siga tendências. A cor branca não é nenhuma novidade em minhas obras, mas pode ser para os outros. Não sou o criador do branco, só acho que as pessoas sempre ficam bem com um fundo desta cor. Não há modismo na arquitetura. A moda é muito passageira para mim, a cada estação ela acaba. Se você segue uma tendência, acredita que está certo. Como uma religião, se acredita no catolicismo se torna católico. Meu trabalho é muito particular, tenho poucos clientes, eles têm de se identificar comigo. Não faço muita concessão."

Humberto Campana, 43, é advogado e seu irmão, Fernando, 35, arquiteto. Apaixonados pelo design desde a infância, por pressões sociais e familiares acabaram seguindo outros caminhos. Em 1984, os dois se uniram e começaram a produzir peças. Em 1989, fizeram no MASP (Museu de Arte de São Paulo) sua primeira mostra, com trinta cadeiras. A cadeira ao lado é deles. Hoje, o nome Campana é respeitado no circuito internacional e os irmãos já participaram de várias mostras na Itália, a meca mundial do design.
"Nunca nos consideramos formadores de opinião, mas achamos que é um rótulo com o qual é preciso ter muito cuidado. Nós trabalhamos por gosto, adoramos trazer a novidade, ousar com materiais. Não queremos ser famosos. Para nós, o que realmente importa é a integridade do nosso trabalho, a formação de opinião é apenas a consequência disso."

Marcantônio Villaça, 34, marchand. Sócio da Camargo Villaça, uma das maiores galerias de arte de São Paulo, filho do escritor e membro da Academia Brasileira de Letras Marcos Villaça, Marcantônio nasceu em Recife (PE). Após passar a adolescência em Brasília com os pais, colecionando peças desde os 15 anos, mudou-se para São Paulo. Além de ser curador, escreveu para várias publicações, entre elas a Folha, e foi diretor de arte da revista "Galeria". Em 1992, inaugurou sua galeria com exposições de Jacques Lerner e Daniel Senise.
"Minha paixão pela arte começou em casa, meus pais sempre tiveram muitos quadros. Me sinto mais responsável pelos 20 artistas que dependem de mim do que pela minha influência no meio artístico. No fundo, acho que ser considerado um formador de opinião é apenas um reconhecimento do meu trabalho."

Solange Farkas, 40, curadora do festival Videobrasil. Nascida em Salvador (BA), Farkas é formada em jornalismo. Sua paixão pelo vídeo surgiu em uma visita ao Museu de Arte Moderna de Paris. "Vi que o vídeo tem uma linguagem própria, independente do cinema." Em 1982, resolveu criar um festival de vídeo-arte no Brasil. Hoje, com 11 edições da Videobrasil já realizadas, Farkas quer priorizar o aspecto artístico do festival. "O prêmio é ser selecionado para participar." Com visitas marcadas na Holanda, Japão, Itália e outros países, o Videobrasil se firmou como um dos principais festivais de vídeo-arte do mundo.
"Ser formador de opinião é sobretudo uma responsabilidade muito grande. Cobro muito a mim mesmo, a qualidade do meu trabalho é fundamental, pois outros vão se orientar pelo que fiz. É gratificante, mas para assumir uma posição dessas, é preciso estar atento, ser generoso e ter bom senso crítico."

Dudu Marote, 31, produtor musical e dono da produtora Dr. Dd, produziu "Samba Poconé", último trabalho do Skank e disco mais vendido de 96 (acima, cena do clip de "Garota Nacional"). Faz também trabalhos de publicidade, como as músicas para os filmes da Melissa com Claudia Schiffer.
"Acredito que toda a cena clubber vem da produção do disco do extinto 'Que Fim Levou Robin?', da qual fui responsável. Isso foi o que me projetou localmente porque havia shows no extinto Nation, que acabou gerando o Massivo e lançando a Bebete Indarte. Dizem que sou 'workaholic'; esse ano, tenho o projeto do meu disco, que vai contar com as participações de Carlinhos Brown, Skank, Frejat, Marisa Orth e André Abujamra, da banda Karnak. Serão músicas para festa, nada sérias, para se divertir."

Leon Cakoff, 48, e Renata de Almeida, 31, organizadores da Mostra Internacional de Cinema, festival que começou alternativo e, depois de 20 edições, está consagrado. Ganhou tanto espaço que, neste ano, percorrerá o Brasil, com o nome de Mostra Brasil. (Ao lado, cartaz da 20.a Mostra, com desenho realizado e doado pelo cineasta Akira Kurosawa).
"Com as crises, o brasileiro não tinha a cultura como prioridade. Nosso trabalho é um bom exemplo de persistência: sempre sofri com filmes que trouxe e não fizeram sucesso. Quis provocar curiosidade nas pessoas em relação à vida, dar uma visão humanista do cinema, trazendo filmes que valorizam a vida e os sentimentos", diz Cakoff.
"A linha coerente que seguiu a mostra é que conquista a confiança do público, que sabe que tem um trabalho sério de pesquisa. Então, o que acontece hoje em dia é que o público arrisca: entra no cinema e nem sabe ao que vai assistir", diz Renata.

Casados há doze anos, os estilistas Reinaldo Lourenço, 34, e Glória Coelho, 44, influenciam a moda com as grifes Reinaldo Lourenço e G. Glória abriu sua primeira loja há 23 anos, quando tinha 21, e, desde a adolescência produzia roupas e bijuterias.
Reinaldo começou como assistente de estilo da G, aos 19 anos. Foi assistente de produção de Costanza Pascolato, proprietário da Camisaria São Paulo, e tem sua grife há nove anos.
"Queria ser arquiteta mas as pessoas não paravam de me procurar para comprar criações minhas. Entrei na moda sem sentir. Aprendi tudo empiricamente. Agora, me atualizo e percebo as novas técnicas que existem no mundo.
A roupa evoluiu. A cada dia ficamos mais exigentes. Quando uma roupa não está bem feita tenho vontade de chorar.
Faço uma roupa confortável, que veste uma menina ou uma senhora. Não é interessante fazer sacrifício para usar uma roupa. As brasileiras também têm um lado sexy. Gostam de roupa que mostre e valorize o corpo.
Nunca penso se influencio as pessoas. Mas quando descubro um tecido e começo a usá-lo, todo mundo começa a usar", diz Glória. "Sempre soube o que iria fazer desde pequeno: queria ter uma confecção e ser estilista. Quanto à influência que exerço hoje, minha intenção é essa mesmo, trabalho para isso. Às vezes vou a uma festa e vejo pessoas com minhas roupas. Acho importante contribuir para a beleza do mundo. É preciso ter uma direção estética que as pessoas aceitem. Há estilistas que fazem sucesso, mas as pessoas não usam. Tenho vendido bastante. Acho que consigo ver antes a moda, esse é o meu triunfo. Tenho vontade de fazer uma etiqueta mais jovem e barata", diz Lourenço.

Do estúdio dos designers gráficos Giovanni Bianco e Susanna Cucco saíram catálogos dos estilistas Dolce & Gabanna, da Forum (ao lado) e a programação visual da Coca-Cola Diet .A meia-italiana/meia-inglesa Susanna Cucco, 31, associou-se ao ítalo-carioca Giovanni Bianco, 31, há quatro anos, criando escritórios em Milão e sucursais em São Paulo e Nova York.
"O que diferencia nosso trabalho é a mistura. Susanna é mais chique e tradicional, eu sou mais contemporâneo. Também trabalho para a necessidade do cliente, não para a minha", diz Bianco.
"Todo mundo é tendência, há sempre uma troca, um inspira o outro. Meus olhos são muito abertos. Observo o que está acontecendo", afirma Susanna.

Paulo Borges, 34, diretor de desfiles, produtor-geral do MorumbiFashion (acima) e dos Phytoervas Fashion de 94 e 95.
"A influência se dá na verdade pela comunicação. Acho até perigoso: se você acorda e muda de idéia, as pessoas podem não entender. Não faço meu trabalho para influenciar. O que quero é transformar todo um raciocínio de moda e cultura de moda no Brasil. Hoje em dia, as pessoas falam em desfiles e modelos, e eu sei que sou responsável por isso, e faço porque a transformação é importante."

Jair Mercancini, 29, empresário da moda.
Mercancini teve início modesto no mundo da moda e chegou a coordenar departamentos de grandes marcas. Após anos no mercado formal de trabalho, pediu demissão. "Larguei o emprego porque considero o profissional fixo arcaico." Com o amigo Beto Lago, resolveu criar uma feira alternativa, o Mercado Mundo Mix (foto ao lado). "Queríamos dar ao consumidor uma forma diferente de procurar e comprar produtos." Na primeira edição da feira, no final de 1994, haviam apenas 16 expositores. Hoje, a dupla conta com 160 expositores fixos e uma lista de espera de mais de 200.
"Se meu trabalho influencia, é porque tem valor. O reconhecimento é fruto do meu esforço. Mas não acredito no rótulo de formador de opinião, acho que cada um deve ter sua própria opinião, formada por um garimpo de informações e influências."

John Casablancas, 54, dono da agência de modelos Elite. Há 25 anos, um namoro com uma modelo dinamarquesa levou Casablancas, que trabalhava na época em uma firma de arquitetura, a abrir uma agência de modelos em Paris. "Eu era jovem, não tinha planos fora ganhar um pouco de dinheiro e me divertir." Quando o primeiro empreendimento não vingou, o amor de Casablancas pelo desafio o levou a criar a Elite, uma das maiores agências de modelos do mundo. É dele também o mérito de ter descoberto nomes como o de Linda Evangelista e Cindy Crawford. Agora, acabou de contratar Claudia Schiffer (foto acima).
"O nome Elite tem muito a ver com minha filosofia de trabalho. Quero ser o melhor, trabalhar apenas com as melhores modelos. Acredito que mudei a maneira das pessoas verem o 'modeling business'. Gosto muito de ser um formador de opinião. Eu curto o poder, sinto satisfação em influenciar os gostos globalmente e não sinto o peso da responsabilidade."

O preparador físico Celson Cunha, 28, já fez o programa e acompanhou os treinos de Angélica, Luís Fernando Guimarães, Marisa Monte, Marília Gabriela, Edson Celulari, Cláudia Liz e André Ribeiro. Formado em Educação Física, com extensão em Fisiologia Esportiva, foi coordenador de musculação da Physus e de treinamento da Fórmula, sendo "personal trainer" desde 92.
"As principais características de meus treinos são a variação e a motivação. A pessoa precisa gostar do que está fazendo. Planejo o treino de acordo com o objetivo e a necessidade de cada um. Não me limito à sala de musculação. A atividade física tem de proporcionar bem-estar e saúde, a estética é consequência disso."

Ângelo Leuzzi, 40 anos, empresário da noite. Em 1983, Leuzzi montou o Rose Bom Bom, uma boate que servia de "point" para as bandas que estavam renovando o rock brasileiro na época. Em 90, fechou o Rose Bom Bom e abriu o Columbia, reduto de clubbers e drag-queens. Em 1996, Leuzzi vendeu o Columbia e inaugurou, ao lado de outros sócios, o Club B.A.S.E (acima), uma boate com ares de fim-de-milênio.
"Quero que os jovens do Brasil pensem em tecnologia, Internet, globalização. "Não me acho formador de opinião, apenas me cerco de pessoas antenadas. Não faço pensando no impacto que vou causar nem no aspecto empresarial, realmente tenho prazer em oferecer algo de novo às pessoas."

Embora diretamente ligado ao teatro, o diretor José Possi Neto pode provocar novidades nos meios da dança em 1997, como novo diretor artístico do Balé da Cidade de São Paulo (acima), a mais importante companhia da cidade. Para quem pensa que Possi não tem afinidades com a dança, é bom lembrar que ele é autor de musicais de sucesso, como "Lilith, a Lua Negra" e "Emoções Baratas", em que ele dirigiu alguns dos melhores bailarinos do Brasil (entre outros Rui Moreira, atualmente brilhando no Grupo Corpo). Nos tempos em que Marilena Ansaldi era mais bailarina do que atriz, Possi a dirigiu em espetáculos que marcaram os anos 80, como "Um Sopro de Vida". Sem contar colaborações com o próprio Balé da Cidade e o grupo Cisne Negro. Amigo de coreógrafos famosos, como a francesa Régine Chopinot, Possi acha que o Balé da Cidade precisa ser mais ousado e provocador, para irradiar um novo movimento de estímulo à dança em São Paulo.
(Ana Francisca Ponzio)

Luís Schwarcz fundou a Companhia das Letras em 1986 e a chave de seu sucesso imediato foi a união da qualidade intelectual de suas publicações com um conceito empresarial de administração. Formado pela GV, filho de empresário e tendo trabalhado na Brasiliense numa época em que esta vinha inovando o mercado editorial brasileiro, Schwarcz investiu na mudança da imagem de seu produto. Cuidado com as capas, qualidade gráfica acima da média, boas traduções, apresentações feitas por gente conceituada e/ou de destaque e ênfase na divulgação ajudaram a transformar o livro num objeto chique para uma classe média que não tinha muito de intelectual ou de bibliófila. Deu-se, assim, o salto qualitativo que consiste em converter uma marca numa "grife".
Tudo isso, naturalmente, não teria ocorrido sem uma seleção profissionalíssima de títulos, algo que a Companhia das Letras fez dando preferência a nomes reconhecidos no Brasil ou no exterior (ao lado, os dois volumes de "O Espírito e a Letra", que reúne críticas de Sérgio Buarque de Holanda, e símbolo de comemoração dos dez anos da editora). Essa decisão rendeu-lhe uma confiabilidade quase imbatível junto a um público leitor que ela tem ajudado a, do ponto de vista dos autores, num sinônimo de consagração.
(Nelson Ascher)

Poderia ser Zé Celso, cujas dionisíacas voltam a fazer cabeças. Poderia ser Gerald Thomas e seu rastro de fumaça, ou Ariano Suassuna, o pregador sebastianista. Mas é Antunes Filho, ainda ele, o teatrólogo de mais influência, de maior ascendência no teatro brasileiro (ao lado, cena da peça "Trono de Sangue"). O diretor de "Macunaíma", duas décadas atrás, segue o mestre dos palcos. Bete Coelho, Mariana Lima, Luis Melo, Giulia Gam, Dionísio Neto, a lista dos atores que passaram por suas mãos é longa. Também os diretores, Marco Antônio Braz, Ulysses Cruz, Bia Lessa. Ou ainda, Romero de Andrade Lima. Todos estiveram com Antunes no "CPTzão", aprenderam com ele. Muitos, talvez todos, não podiam estar hoje mais distantes dos seus preceitos estéticos. Até aí, criar cópias não é papel do mestre.
(Nelson de Sá)

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