São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997 |
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Minissérie de Pareja chega ao SBT
DANIEL CASTRO
A minissérie, produção independente da JPO, ficou pronta na última sexta-feira e ainda não foi vendida ao SBT. A emissora tem prioridade na compra, mas, caso desista, o material será oferecido a outros canais de TV. A produção reconstitui a vida criminosa de Pareja, desde os primeiros assaltos, aos 14 anos. O bandido ficou famoso em 1995, quando manteve a estudante Fernanda Viana como refém durante quase 60 horas, na Bahia, e conseguiu fugir, driblando a polícia de três Estados. A minissérie é narrada pelo próprio Pareja que, durante longas entrevistas gravadas em agosto passado, conta detalhes de suas aventuras. Imagens de arquivo, depoimentos de mais de 20 pessoas (entre vítimas, inimigos e parceiros de crime) e uma dezena de cenas (que reconstituem assaltos e fugas) completam o material. As cenas foram gravadas em São Paulo em dezembro, após a morte de Pareja. O ator Maurício Branco interpreta o bandido (leia texto nesta página). O diretor Régis Faria classifica a minissérie de "docudrama": mistura de documentário (que ocupa mais de 80% do material) com dramaturgia. "A minissérie não é para enaltecer o Pareja. Ele era muito carismático, mas a gente não pode esquecer que era bandido, não era bonzinho. Se precisasse matar, ele matava", diz Faria. O diretor afirma que o documentário não se limita a contar a vida de Pareja. "A minissérie mostra a vida dele e o momento em que passava o país. Eu tento passar como um cara como o Leonardo -que para a polícia era um bandido pé-de-chinelo- ganhou tanta evidência num país como o Brasil", diz. Faria conclui que Pareja foi um produto da mídia. "Ele foi usado pela mídia e ele permitiu isso", conta. Na minissérie, Pareja fala sobre esse assunto: conta que passou a construir uma imagem de bonzinho, de líder preocupado com o social, depois da exposição na imprensa que teve com o sequestro na Bahia. "Ele não tinha preocupação com o social. Queria aparecer, ser fotografado e filmado." Filme Foi por causa da mídia que a minissérie nasceu. Em abril do ano passado, o pai de Régis Faria, o ator Reginaldo Faria, viu a foto de Pareja na capa de uma "revista séria" e teve a idéia de fazer "um puta filme". Um mês depois, Régis se encontrou com Roberto Talma (sócio da produtora JPO), que deu a idéia do "docudrama". No dia 24 de maio, Pareja assinou contrato autorizando a minissérie e o filme -que começa a ser produzido ainda neste semestre. Pareja não exigiu nenhum centavo adiantado -teria 2,5% do lucro do filme e 3,5% do valor de venda da minissérie. Em agosto, Régis Faria foi com uma equipe até o Cepaigo (Centro Penitenciário Agroindustrial de Goiás, em Aparecida de Goiânia, cidade próxima a Goiânia), onde Pareja estava preso. Faria ficou três dias entrevistando Pareja, para traçar uma biografia e esclarecer dúvidas. Em seguida, Faria passou seis dias filmando Pareja (e seus amigos) dentro do presídio. A equipe não contou com proteção policial. "O Leonardo falou que nos garantia. Ele e seu grupo até nos fizeram reféns durante dez minutos. Era encenação, para mostrar como era a adrenalina em uma rebelião e deixar claro que estávamos nas mãos deles." A encenação ilustrou uma das passagens mais importantes da vida de Pareja: a rebelião liderada por ele em março de 96. Durante 159 horas, Pareja e seu bando mantiveram como reféns dentro do presídio juízes, desembargadores e advogados. No episódio, que terminou com a fuga do bando, Pareja foi porta-voz dos presos. A rebelião vai ganhar um capítulo inteiro -o terceiro- na minissérie, com imagens de arquivo e depoimentos de reféns. A minissérie começa com a morte de Pareja, passando para uma narrativa cronológica. "O único caminho dele era a morte", diz Faria. O diretor, no entanto, não esperava que Pareja fosse morto pelo melhor amigo, Eduardo Rodrigues Siqueira, numa intriga. Texto Anterior: Globo, SBT e Cultura prestam serviços aos usuários da rede Próximo Texto: Ator foi escolhido pela 'semelhança' Índice |
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