São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 1997
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Paulistas estão com a pulga atrás da orelha

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A primeira rodada do Rio-São Paulo deixou os paulistas com uma pulga atrás da orelha. O baile de gala que se prenunciava, dada à bagunça reinante do futebol carioca, terminou em acanhada celebração no Maracanã e em festival de vaias no Morumbi.
Bem que o Palmeiras, lá, insinuou uma goleada histórica sobre o Botafogo, que conseguiu arrebanhar 11 jogadores às vésperas da partida de sábado. Logo aos 5min, já vencia por 2 a 0, gols de Viola e Rincón. Mas, aos poucos, o Botafogo foi se arrumando em campo, cavou um pênalti, convertido por Bentinho, e, já no segundo tempo, chegou ao empate, com Sorato.
O Palmeiras só se safou no finalzinho, com Cafu.
Ora, convenhamos, é muito pouco para um time que está armadíssimo há um ano, uma verdadeira constelação de craques e que veste a tradição da camisa verde. Aliás, por falar nisso, um parêntese: essa camisa verde, com faixa horizontal e golas brancas, arrematada pelo cadarço vermelho no decote e o distintivo no centro do peito, essa camisa, insisto, uma reverência ao Palestra Itália, dá de 100 a 0 na listrada titular.
Voltando, porém, ao jogo: é muito pouco para o Palmeiras, e não me refiro ao resultado, mas sim à maneira flácida, burocrática mesmo, com que o time conduziu a partida. Pelo visto, Telê terá que abreviar sua volta ao banco.
Já aqui, pelos relatos, o São Paulo, que pegou um Fluminense no fundo do poço, penou para arrancar um mísero empate de 2 a 2, sob a fúria da torcida.
Não vi o jogo, apenas os gols. Mas não é necessário ver ao vivo o já sabido e notório: a defesa tricolor, sobretudo pelo lado direito (Cláudio e Pedro Luiz), é uma baba; Uéslei não tem categoria para jogar ao lado de Axel, e Denílson precisa com urgência de um parceiro do mesmo nível.
Curto e grosso.
*
Palmeirense ou corintiana? O certo é que Elis era gremista. Mas, quando trabalhamos juntos, lá pelos meados dos 60, época de ouro da Academia, ela havia adotado o Palmeiras. Penso hoje que, talvez, por influência de Rubinho, o baterista genial do Zimbo Trio, fanático palestrino, quem sabe.
Contudo, há algum tempo, seu filho João Marcelo me assegurou que Elis se dizia corintiana, até o fim da vida, tão curta e tão gloriosa.
Pode ter sido assim mesmo. Apenas mudou de paixão, como, por exemplo, o Carlito Maia, que foi santista, são-paulino e acabou corintiano doente. Mas pode ser uma falha desta esburacada memória, que vive me armando ciladas vida afora.
E é ela quem me conduz, neste domingo em que se reverenciam os 15 anos da morte de Elis, ao minúsculo apartamento de quarto, sala e cozinha do empresário artístico Genival Mello, num velho prédio da rua Guaianazes, lá pelo raiar dos anos 60.
Toca a campainha, a porta se entreabre e, no vão, um sorriso de menina, largo e envolvente, inunda a sala. A menina trocou algumas palavras com Genival e se foi.
No ar, restou a frase de Cyro Monteiro: "Essa garota vai ser a maior cantora do Brasil".
E foi.

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