São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 1997
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Ciúme vira inferno geométrico em 'Ferrão'

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

"O Ferrão da Morte", do japonês Kohei Oguri, poderia tomar emprestado o título dado no Brasil a um filme de Claude Chabrol: "Ciúme - O Inferno do Amor Possessivo".
A diferença é que no filme de Chabrol tratava-se de um adultério imaginário da mulher. Aqui, a traição é verdadeira e quem a comete é o marido. Quem vai tornar a vida do casal um inferno é a mulher traída.
O filme parece começar no meio da história (baseada em romance de Toshio Shimao): o adultério já foi descoberto, o marido terminou sua aventura e tenta convencer a mulher a confiar em sua nova disposição de fidelidade. Casados há dez anos, eles têm dois filhos.
Cada cena, por sua vez, parece flagrar uma ação já em andamento: a primeira fala frequentemente é uma resposta a uma pergunta já feita, e os atos dos personagens buscam resolver ou consertar uma situação desencadeada antes e não registrada no filme.
O espaço de cada plano é quase sempre truncado, e a área de atuação dos personagens é circunscrita por paredes, portas, janelas, grades, colunas. Inscritos no drama, os personagens são prisioneiros de um inferno paradoxalmente límpido, equilibrado e retilíneo.
Oguri realiza nesta pequena obra-prima (premiada em Cannes) uma curiosa e perturbadora mistura do cinema de Ozu com o de Mizoguchi: o olhar compassivo e contemplativo do primeiro captando uma tragédia da alma característica do segundo.
O único problema a ser apontado é a inevitável perda de força e qualidade da imagem na transposição para o vídeo, que torna tudo meio escuro e borrado.
Apesar disso, é uma ótima oportunidade para conhecer um pouco da obra de Oguri, cujo primeiro longa, "Rio Barrento", ganhou o Festival de Moscou e foi indicado ao Oscar de filme estrangeiro.

Vídeo: O Ferrão da Morte
Produção: Japão, 1990, 115 min.
Direção: Kohei Oguri
Com: Keiko Matsuzaka, Tittoko Kishibe
Lançamento: HVC (011/253-0600)

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