São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 1997 |
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Trama cubista de Raoul Ruiz confunde espectador
CECÍLIA SAYAD
No caso deste filme, um dos últimos em que atuou Marcello Mastroianni, quem paga é o espectador que, em busca de um sentido para as quatro narrativas que o compõem, acaba frustrado. O principal elo de ligação entre as histórias, situadas no domínio do fantástico e do absurdo, é o ator italiano. Ele é Mateo Strano, um homem que abandona sua mulher (Marisa Paredes) e muda-se para um imóvel vizinho, onde vive durante 20 anos. Um dia, decide voltar, e ela o recebe sem exigir explicações. Ele é também um antropólogo rico que opta por levar a vida como mendigo e se torna amante de uma mulher de negócios que se prostitui. Além disso, encarna o empresário Luc Allemand, que se faz passar pelo mordomo de uma mansão herdada, em circunstâncias bizarras, por um jovem casal. Allemand, enquanto não é mordomo, simula a existência de uma família no estrangeiro e acaba, para sua surpresa, recebendo a visita dos parentes inventados. As quatro tramas, em princípio autônomas, se entrecruzam e compõem uma mesma história. O diretor Raoul Ruiz, diz que procurou combiná-las numa espécie de padrão cubista. A condução das narrativas é marcada pela arbitrariedade, o que, na primeira metade do filme, revela-se encantador. O espectador compreende que vai penetrar um universo mágico onde tudo pode acontecer. Entretanto, ao fornecer as peças de um quebra-cabeça que, todavia, nunca chega ao fim, o diretor acaba por deixar o espectador estressado. Quanto mais peças ele tem, mais desorientado fica, pois elas não levam a conclusão alguma. É assim que nos deparamos com cenas como a do encontro, num café, entre todos os personagens do filme. A situação cria a expectativa de um desfecho satisfatório, mas ele é decepcionante. A opção pela arbitrariedade acaba, então, dando a impressão de que o diretor se perdeu na articulação de suas narrativas. É um risco, legítimo, que Ruiz decide correr. Mas, muitas vezes, quando tudo é permitido, pouco resta. Filme: Três Vidas e Uma Só Morte Quando: pré-estréia hoje, às 21h Cinema: Sala Cinemateca (r. Fradique Coutinho, 361, tel. 011/881-6542, Pinheiros) Texto Anterior: Pólo de cinema é prioridade Próximo Texto: Brasileiros estréiam no festival Índice |
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