São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 1997
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Béjart faz coreografia nova para o Brasil

ANA FRANCISCA PONZIO
ENVIADA ESPECIAL A PARIS

O coreógrafo francês Maurice Béjart está criando um espetáculo especial para a temporada que realizará no Brasil, em abril.
Esta estréia mundial deverá se chamar "Barroco, Bel Canto". Além de músicas de compositores como Vivaldi e Haendel, utilizará composições de autores barrocos menos conhecidos.
"É um trabalho que está no começo, em plena transformação", disse Béjart na tarde do último sábado, em entrevista a jornalistas brasileiros no Hotel Ritz, em Paris.
Segundo Béjart, o título "Barroco, Bel Canto" foi escolhido por começar com a letra "b", que tem um significado especial para o coreógrafo.
Além de ser a letra de seu sobrenome, também são iniciais de Béla Bartók, compositor cuja música inspirou "Mandarim Maravilhoso", outra peça de sua autoria que está incluída no programa brasileiro.
Clássicos
"Pássaro de Fogo", um dos clássicos do repertório de Béjart, também será mostrada no Brasil. Para criar esta coreografia, em 1970, Béjart se inspirou no líder guerrilheiro Che Guevara.
A grande novidade, no entanto, será "Le Presbytre n'a Rien Perdu de Son Charme, ni Le Jardin de Son Éclat", que estreou na última quinta-feira no Théâtre National de Chaillot, em Paris, em temporada que comemora os 70 anos de Béjart.
O longo nome deste espetáculo, retirado de um romance do escritor francês Gaston Leroux, foi escolhido por Béjart somente por causa de sua sugestão poética. Seu conteúdo, no entanto, marca o primeiro manifesto criativo do coreógrafo sobre a Aids.
Embora a obra homenageie o bailarino Jorge Donn e o cantor de rock Fred Mercury, do grupo Queen, ambos mortos pela Aids quando tinham 45 anos, "Le Presbytre" se refere a todas as pessoas que morrem jovens.
"A Aids não é uma tragédia, mas uma coisa contra a qual devemos lutar", diz Béjart, que chegou a perder 11 dos 14 bailarinos que participavam de uma de suas coreografias, todos vítimas da doença.
Ação efetiva
"Cada século teve seu cadafalso. Em sua época, Baudelaire morreu, aos 50 anos, de sífilis. Quantos pintores, escritores e outros artistas encontraram a morte por causa da sífilis, que afinal foi vencida?", diz ele.
E continua: "Acredito que, em vez de dramatizar, devemos promover uma ação efetiva contra o que nos ameaça".
Uma das formas que Béjart encontra de lutar contra a Aids, segundo ele, é doar todo o lucro de seus espetáculos para instituições que cuidam de pessoas doentes ou que realizam pesquisas médicas sobre a cura da doença.
Foi o que ele fez com os rendimentos da temporada que está iniciando em Paris e que se estenderá até o dia 5 de fevereiro. "Doei tudo à causa da Aids, não só os lucros de bilheteria mas também meus direitos de autor sobre a obra", diz. "Creio que isto é lutar."
Durante a temporada no Brasil, é provável que os organizadores da turnê de Béjart promovam alguma manifestação do coreógrafo sobre a Aids.
Juventude
Depois de popularizar a dança neste século e impor um estilo que influenciou a arte em geral, Béjart prova que continua capaz de se comunicar naturalmente com a juventude.
Com seu novo balé, "Le Presbytre", ele se coloca em sintonia com a nova geração. Ele afirma que a contribuição maior é sua permanente convivência com jovens, não só junto a seu grupo de dança, mas também por meio da Escola Rudra, que mantém em Lausanne.

A jornalista Ana Francisca Ponzio viaja a convite da Media Mania

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