São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 1997
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Pais lavam as mãos e não fazem 'serviço sujo'

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Não é de hoje que esta coluna critica a falta de educação dos filhos da classe média alta. O vídeo ensinando turistas a se comportar na Disneyworld está aí que não me deixa mentir, assim como a reportagem exibida no "Fantástico", dias atrás, que mostrava crianças brasileiras furando fila e zoando na terra do Mickey.
Agora surge o caso dos três garotos que estão aterrorizando moradores do mais antigo condomínio fechado da cidade, localizado no bairro da Aclimação. Considerados, em carta assinada pelo conselho de síndicos, como "terroristas" eles perseguem os vizinhos, batem boca com todo mundo e foram acusados de agredir fisicamente um faxineiro.
Sei de moradores que estão dispostos a mudar de lá, pois já não podem mais nem conversar ao telefone ou convidar amigos para jantar, tamanha a quantidade de palavrões que ecoam do pátio.
É claro que criar feras em cativeiro as torna mais ariscas.
A São Paulo em que cresci pode ser comparada a uma cidade pacata como Pardinho (SP). Eu chegava da escola, subia na bicicleta e sumia. Só dava as caras na hora do jantar.
Na época, o maior risco que uma criança corria era que uma bombinha de São João desse chabu. De resto, a única preocupação era se esfolar ao cair do carrinho de rolimã ou ter a linha do papagaio cortada por cerol.
Lembro quando o Bandido da Luz Vermelha, que cumpre pena há mais de 20 anos, começou a rondar a vizinhança onde eu morava. Acabou entrando na casa de um vizinho e matando o pai de um garoto que conhecíamos. Para mim, o episódio marcou o fim de meu livre ir e vir. Os guardas da rua passaram a andar armados e muita gente tratou de instalar portões de grade.
Hoje, nem portão de grade resolve. A molecada cresce enjaulada em áreas de serviço e de acesso às garagens. E a claustrofobia só aumenta a cada bola que cai no canteiro de flores do prédio. Mas isso não exime os pais da responsabilidade de educá-la.
Dentro da filosofia de quem aplaude o filho que cola, os pais dos hunos da Aclimação se recusam a admitir a culpa dos guris. E, se autoridades não realizarem o trabalho que eles se negam a fazer, em breve teremos mais três adultos do tipo que usa arma em briga de trânsito e bate na mulher.

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