São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 1997
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MONSTRO FARMACOLÓGICO

A etimologia não deixa de ser controversa, mas o termo "droga", tanto em sua acepção medicamentosa como na de algo daninho, não poderia ser mais preciso. Cada vez que alguém ingere um fármaco com princípio ativo, provoca dentro de seu organismo uma série de reações, algumas desejáveis, outras, não.
Apenas a criteriosa avaliação médica é capaz de determinar tanto a real necessidade do uso de um remédio como a sua dosagem necessária. No Brasil, porém, criaram-se "frankensteins" farmacológicos em que os laboratórios misturam mais de um antibiótico ou agentes antimicrobianos com outras drogas.
Essas misturas, raramente amparadas em sólidos estudos clínicos sobre sua eficiência e que não são, no mais das vezes, vendidas no Primeiro Mundo, implicam vários riscos.
Na melhor das hipóteses, o paciente estará tomando um dos princípios ativos em posologia diferente da ideal. Os antibióticos associados, aliados ao péssimo hábito da automedicação ou da descontinuação do tratamento, podem ainda constituir grande risco para a saúde pública ao possibilitar em tese o surgimento de cepas de bactérias resistentes a mais de um agente microbiano.
Parece assim mais que necessário exigir que amparem suas supostas panacéias em estudos clínicos consistentes. O argumento de que muitos desses medicamentos são vendidos há mais de 20 anos simplesmente não procede. Outras terapêuticas, como as sangrias, foram aplicadas por séculos e hoje são vistas mais como métodos de tortura do que propriamente como tratamentos.
A saúde brasileira segue padecendo dos mais diversos males, muitos até piores. Mas é imperativo que as autoridades sanitárias se esforcem mais para que aquilo que deveria salvar vidas não as ameace, nem torne ainda mais salgada a conta da farmácia, que tantos sacrifícios já exige de milhões e milhões de brasileiros.

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