São Paulo, sexta-feira, 24 de janeiro de 1997
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CPI critica BC e acusa governos de SC e AL

FERNANDO GODINHO
CARI RODRIGUES

FERNANDO GODINHO; CARI RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Senador suspeita que emissões possam ter sido feitas com base em dívidas judiciais que não existiam

O relatório parcial do senador Roberto Requião (PMDB-PR) sobre a emissão de títulos públicos destinada ao pagamento de sentenças judiciais (precatórios) aponta irregularidades nos pedidos feitos por Santa Catarina e Alagoas e acusa o Banco Central de omissão na análise dos processos.
Requião é o relator da CPI do Senado que investiga o assunto. A Folha teve acesso ao relatório.
As investigações da CPI avançaram mais sobre o processo de Santa Catarina, que solicitou autorização do Senado para emitir R$ 552,15 milhões (ou R$ 605,14 milhões em valores atualizados) em títulos para pagar precatórios.
A CPI considera o processo de Santa Catarina como um dos "pontos críticos da investigação", pois considera a possibilidade da emissão ter ocorrido "com base em precatórios inexistentes".
No processo, a tabela que totaliza o valor dos títulos a serem emitidos não contém qualquer assinatura "e poderia ter sido facilmente produzida por qualquer pessoa com o mínimo de domínio no uso de planilhas eletrônicas".
A CPI critica o BC ao pedir mais detalhes sobre a verificação da existência desses precatórios e sobre a metodologia de cálculo usada para checar os valores devidos.
A comissão também quer saber se o BC se baseou apenas nos dados fornecidos por Santa Catarina e se houve, por parte de alguma autoridade federal ou estadual, "gestão junto ao BC para agilizar o exame do processo".
O relatório de Requião considera que os valores dos precatórios podem ter sido corrigidos por "índices superestimados".
O alto valor da emissão solicitada por Alagoas para pagar precatórios (mais de R$ 1 bilhão, em valores atualizados até janeiro de 1996) chamou a atenção da CPI.
"Um simples exame dos grandes números já revela indícios de irregularidades", observa o relatório. "Como aceitar que o BC tenha admitido a existência de uma dívida de R$ 1 bilhão sem exigir nenhum documento comprobatório junto aos tribunais?"
Requião disse que não vai quebrar de uma só vez o sigilo bancário, telefônico e fiscal das 24 instituições financeiras suspeitas de realizar as operações irregulares.
Ele disse que o chefe do Departamento da Dívida Pública do Banco Central, Jairo da Cruz Ferreira, deixou claro no seu depoimento à CPI que foi pressionado para aprovar o segundo parecer para emissão dos títulos da Prefeitura de São Paulo. O diretor de Normas do BC, Alkimar Moura, não vai se pronunciar sobre o assunto.

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