São Paulo, sexta-feira, 24 de janeiro de 1997
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Diretor de Sundance fala sobre o Brasil

ADRIANE GRAU
ENVIADA ESPECIAL A PARK CITY

O Sundance Film Festival criou fama como o festival de cinema de Robert Redford. Mas na verdade os olhos azuis do galã só pousam sobre filmes e projetos selecionados por outro homem. Ele é Geoffrey Gilmore, que é mais que o braço direito do Sundance Kid.
É o diretor de programação do Sundance Film Festival, depois de ter passado vários anos à frente da Cinemateca de Los Angeles e dando aulas na UCLA. Leia abaixo trechos de sua entrevista à Folha.
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Folha - Há dois filmes brasileiros na "World Cinema" deste ano. De onde surgiu tanto interesse pelo cinema do Brasil?
Geoffrey Gilmore - É interessante o renascimento pelo qual passa o cinema do seu país depois da morte da Embrafilme. Sendo um festival sério, o Sundance não poderia deixar de lado o cinema latino-americano como um todo.
Folha - Você gosta de filmes latino-americanos?
Gilmore - Tanto Robert Redford como eu nos comprometemos com o cinema latino-americano por uma questão de paixão. É importante ver como os cineastas se viram para terminar suas obras. O cinema desses países havia sido destruído pela invasão de Hollywood e não podemos deixar de documentar a luta pela reconquista de espaço no mercado.
Folha - Concorda que não é possível generalizar o cinema para o continente todo?
Gilmore - Com certeza. Mas há a tradição literária, que faz de livros a base de muitos filmes. Há geralmente a necessidade de mostrar a cena política. Tanto "Doces Poderes", de Lucia Murat, quanto "O Sertão das Memórias", de José Araújo, são filmes engajados politicamente, cada qual a seu modo.
Mas não usam fórmulas ultrapassadas que se preocupavam apenas com o antiimperialismo. Vão muito além disso, mostrando nuances da cena política de uma maneira que nunca aconteceria num filme feito nos EUA.
Folha - Quais outros filmes brasileiros você assistiu para a seleção?
Gilmore - "Um Céu de Estrelas" e "Como Nascem os Anjos".
Folha - Por que não foram selecionados?
Gilmore - São mal desenvolvidos. Mas há interpretações maravilhosas.
Folha - Mas há filmes americanos no festival que também são mal desenvolvidos. Isso não faz parte do espírito independente?
Gilmore - Mas há compensações em termos de originalidade e fórmulas para contar as histórias. Alguns exploram e expandem a visão corrente no cinema e por isso merecem ser vistos.
Folha - Como você se sente quando o festival é apontado como sendo "de Robert Redford"?
Gilmore - Festivais de cinema são criações coletivas. Neste caso, sou eu que tenho a melhor compreensão da programação. E não sou o único a saber disso.

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