São Paulo, sexta-feira, 24 de janeiro de 1997
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MENOS CIRANDEIROS

A imagem da "ciranda financeira" fez história. Foi o marco sobretudo dos anos 80, década da crise da dívida externa, quando a necessidade de "megasuperávits" no comércio exterior obrigava o governo a manter uma combinação de juros altos e câmbio desvalorizado, realimentando a inflação, o que levava a mais juros, mais correção cambial e assim por diante, numa ciranda infernal.
Entre as muitas distorções provocadas por esse círculo vicioso, houve o inchaço do sistema financeiro. Com o Plano Real, entretanto, reduziu-se a participação do sistema financeiro na riqueza nacional (no Produto Interno Bruto) de 12,7%, em média, de 1990 a 94, para 6,9% em 1995.
Há duas explicações para o fenômeno. A principal e até óbvia é o fim da inflação alta. O desaparecimento dos chamados ganhos de "float", a receita que os bancos auferiam como intermediários privilegiados da ciranda, praticamente condenou à morte as instituições menos ágeis.
Entretanto, uma segunda explicação é menos óbvia. Mesmo levando em consideração a existência de maquiagem de resultados e inépcia gerencial em bancos estatais e privados, o fato é que a economia brasileira foi submetida a um tremendo aperto de crédito em 1995. Outro estudo recente, patrocinado pela Associação Brasileira de Bancos Comerciais, argumenta que o exagero do aperto de crédito, por meio de instrumentos igualmente perversos como os compulsórios, ameaçou a sobrevivência de muitas instituições.
A situação, hoje, ainda é claramente de transição. A privatização e o saneamento das instituições financeiras públicas está apenas no início. No setor privado, a disputa pelo mercado e as fusões e aquisições também prosseguirão por vários anos.
E a política econômica, mesmo sem inflação, continua presa a uma lógica de juros altos e ciclotimia (o conhecido "stop and go"). Existem hoje menos cirandeiros, mas a ciranda dos juros altos, sob outras formas, ainda é um importante obstáculo até mesmo para a consolidação do próprio sistema financeiro.

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