São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 1997
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Advogado de defesa 'bate boca' com juiz

DA SUCURSAL DO RIO

A manhã do terceiro dia do julgamento do caso Daniella Perez foi marcada por uma discussão entre o juiz José Geraldo Antônio e o advogado de defesa de Guilherme de Pádua, Paulo Ramalho. Depois de dizer que o perito Abrão Lincoln, responsável pelo laudo cadavérico da atriz, estava se contradizendo, Ramalho passou a interromper o depoimento. A discussão terminou com a suspensão da sessão. Leia a íntegra da discussão.
*
Juiz José Geraldo Antônio - O senhor está sendo inconveniente.
Paulo Ramalho - Eu lamento. Eu estou aqui para exercer o direito de defesa, eu não estou querendo agradar a ninguém.
Juiz - O senhor está sendo é mal-educado.
Ramalho - Muito pelo contrário. Eu estou tendo respeito com vossa excelência.
Juiz - O senhor está interferindo numa função jurisdicional que não lhe cabe. Vossa excelência proteste, registre seu protesto, tudo o que o senhor quiser, mas o senhor não pode interferir na função jurisdicional, que não lhe compete.
Ramalho - O senhor me permite falar? Vossa excelência me permite falar?
Juiz - Assim nós estamos começando o julgamento de uma forma que não é conveniente à boa Justiça.
Ramalho - Vossa excelência me permite falar? Mais educação, mais gentileza e apreço eu sou incapaz. Vossa excelência me permite falar?
Juiz - Pode falar, pode falar.
Ramalho - Em primeiro lugar, em nenhum momento eu tive a intenção de atingir pessoalmente vossa excelência.
Juiz - Não é a mim. É ao Judiciário.
Ramalho - A única questão é a seguinte. Ele fez duas afirmações, ele próprio. Eu só quero que ele diga...
Juiz - Ele vai explicar doutor, mas o senhor não deixa. O senhor não está deixando a testemunha responder.
Ramalho - Vossa excelência me deixa falar?
Juiz - O senhor está sendo, continua sendo inconveniente. Nós não podemos continuar o julgamento assim. O senhor está perturbando o julgamento.
Ramalho - Absolutamente, excelência.
Juiz - O senhor está perturbando, todos nós estamos tensos, estamos há três dias no julgamento, vamos conduzir a coisa dentro de uma norma de ética. Se não, doutor, com discurso e com o senhor interrompendo a toda hora, não dá, doutor, assim não dá, assim o senhor já está, com certeza, conseguindo me irritar.
Ramalho - Vossa excelência está exaltada.
Juiz - Já está conseguindo me irritar.
Ramalho - Eu não estou exaltado. Eu estou pedindo...
Juiz - O senhor está conseguindo me irritar, doutor...
Ramalho - Mas eu não dei uma razão para se irritar. Desculpe.
Juiz - Se a linha de defesa do senhor é para perturbar, nós podemos encerrar até o julgamento.
Ramalho - Vossa excelência está exaltada.
Juiz - Nós não podemos continuar um julgamento dessa natureza, assim não, doutor. Ou o senhor respeita o Judiciário, permite que eu conduza o processo e vai ter a palavra no momento certo. Porque daí nós não podemos continuar o julgamento.
Ramalho - Eu pedi a palavra só para...
Juiz - Nós não podemos continuar o julgamento. Não vou ficar discutindo com o senhor em plenário.
Ramalho - Mas eu não estou discutindo. Eu só pedi a palavra para pedir...
Juiz - Então, por gentileza, o juiz está com a palavra e não admito interferência.
Ramalho - Tá bom. Só pedi para pedir desculpa.
Juiz - Desliga o telefone (microfone) do advogado.

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