São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 1997
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Filme de Bodrov emociona Sundance

ADRIANE GRAU
ENVIADA ESPECIAL A PARK CITY

O diretor Sergei Bodrov tinha apenas 9 anos de idade quando leu "Prisoner of the Mountains", a história de dez páginas escritas por Leon Tolstói que ainda hoje faz parte da leitura obrigatória nas escolas da Rússia, sua terra natal.
Quarenta anos depois, ele transportou para o contemporâneo e sangrento conflito da Rússia com a Tchetchênia a história dos dois soldados mantidos em cativeiro para ser trocados por prisioneiros de guerra.
A vila de Reichi, encravada entre as montanhas do Cáucaso e que tem apenas 800 habitantes, recebeu a equipe de "Prisoner of the Mountains" e complementou o elenco, já que Bodrov prefere trabalhar com atores não profissionais.
Seu filho Sergei Bodrov Jr. interpreta no filme o soldado Vânia. O galã russo Oleg Menshikov é a presença profissional, fazendo o Sacha, o outro soldado.
Morando em Los Angeles há três anos, Sergei Bodrov pensa que não há diferença entre fazer cinema nos Estados Unidos ou na Rússia. "Só que nos Estados Unidos a qualidade de vida é bem melhor", diz.
Bodrov recebeu a reportagem da Folha pouco antes de apresentar seu filme numa sessão com ingressos esgotados no Sundance Film Festival.
*
Folha - Que tipo de reações o filme provocou na Rússia, já que trata de uma guerra contemporânea e próxima?
Bodrov - Tenho recebido reações emocionadas do público aqui e na Rússia, onde o filme foi visto por milhões de pessoas. Lá não é apenas um filme, é um verdadeiro evento. Pessoas choram na platéia, se lembram dos parentes que morreram.
Folha - Como foi filmar na Rússia, sua terra natal?
Bodrov - Foi bom. Mas sinto que posso trabalhar em qualquer lugar. Adoro diferentes locações, diferentes pessoas.
Folha - A vila escolhida para o filme é maravilhosa. É um daqueles lugares que a maior parte da humanidade só conhece por meio de filmes. Como surgiu essa locação?
Bodrov - Foi milagroso encontrar a vila de Rechi, onde as pessoas vivem como há mil anos. É assim que Leon Tolstói a descreveu.
Fui conhecê-la sozinho e, assim que bati os olhos, soube que era o melhor lugar para filmar "Prisoner". Vi que seria difícil levar a equipe de 30 pessoas e achar acomodações para todos, mas a beleza do lugar superou tudo.
Folha - Qual será seu próximo projeto?
Bodrov - Farei um filme mágico sobre circo. Alguma coisa que faça as pessoas rirem. O público adora rir.
Folha - Será bastante diferente de "Prisoner". Você teve medo de filmar tão próximo a uma guerra de verdade?
Bodrov - Era perigoso. Tivemos que interromper as filmagens. Mas prefiro mesmo as comédias.
Folha - Qual sua técnica para dirigir pessoas que não são atores?
Bodrov - Dou pequenas instruções aos não-profissionais, como a menina Susanna Mekhralieva. É preciso apenas escolher as pessoas certas e deixá-las à vontade. Não há problemas em que elas tragam um pouco de si para a interpretação.
Folha - O final do filme pode ser entendido como sendo o que aconteceu ou como um sonho...
Bodrov - É bom que as pessoas possam escolher o final.
Folha - Numa época em que os filmes de Hollywood mais do que nunca transformam qualquer história real em ficção, como se sente ao mostrar uma obra de ficção com ar de história real?
Bodrov - Acho que uma história como essa deve ser tratada como verdadeira, pois passa uma mensagem. Quero que as pessoas vejam no filme o lado humano da guerra.
Folha - "Prisoner" foi derrotado por "Kolia" no Globo de Ouro. Como você se sente?
Bodrov - As escolhas para o Globo de Ouro são muito diferentes das do Oscar. Mas quero mesmo é que o público goste do filme. Só isso.

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