São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997
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Júri engrossa lista de crimes famosos

RICARDO FELTRIN
MARCELO GODOY

RICARDO FELTRIN; MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde o final da década de 70, um julgamento não despertava tanto interesse e paixão no país

Desde que o então playboy Doca Street foi julgado pelo assassinato da socialite Angela Diniz, no final da década de 70, o país não parava para acompanhar um júri popular como o do caso Daniella Perez.
A morte da atriz da TV Globo passa a integrar um mórbido dossiê criminal no Brasil.
São casos de crimes -passionais ou não- envolvendo personagens conhecidos ou famílias de elevada classe social e que sempre mobilizaram a opinião pública.
Alguns desses crimes não tiveram como desfecho a esperada punição dos culpados.
Ninguém jamais foi condenado pelas mortes da menina Araceli, 10, da socialite Dana de Teffé, crime investigado nas décadas de 40 e 50, cujo corpo jamais foi encontrado, e de Cláudia Lessin Rodrigues, entre outros casos.
Os dois julgamentos de Doca Street (Raul Fernando do Amaral Street) entraram para a história do direito criminal brasileiro.
O primeiro julgamento ficou marcado pela batalha entre os advogados criminalistas Evaristo de Moraes (acusação) e Evandro Lins e Silva (defesa).
Lins e Silva conseguiu que Doca fosse condenado a dois anos de prisão quando todos esperavam uma pena mais rigorosa.
O argumento que então convenceu os jurados foi o de que Doca agira em legítima defesa da honra. O advogado também conseguiu que o réu cumprisse a pena em liberdade.
No segundo julgamento, em 81, Doca foi condenado a 15 anos de prisão -já cumpridos. Hoje, o ex-playboy considera que refez sua vida. Ele vende carros.
A seguir, leia sobre alguns dos casos criminais mais polêmicos dos últimos 24 anos no país.
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Araceli - Em maio de 1973, o corpo de uma menina foi encontrado num matagal, atrás de um hospital em Vitória (ES).
A polícia encontrou o corpo em adiantado estado de decomposição, quase irreconhecível. A menina fora estuprada e suspeitava-se que o assassino havia jogado ácido para desfigurar ainda mais o corpo de Araceli Crespo Sanches, 10.
O terreno onde o corpo foi encontrado, segundo a polícia, seria um ponto de encontro de jovens de classe média-alta de Vitória.
Depois de anos de investigação, acabaram sendo indiciados três empresários. Dezoito anos depois do crime, a Justiça decidiu absolver os acusados. A mãe de Araceli, a boliviana Lola Sanches, deixou o Espírito Santo e nunca mais foi vista. Chegou a ser apontada como participante do crime, mas isso nunca foi provado.
Uma CPI foi aberta na Assembléia Legislativa do Estado para investigar o crime. A comissão não chegou a nenhuma conclusão.
O caso ficou marcado pelas mortes de dois policiais e de um deputado -envolvidos na apuração do crime- bem como a de um dos acusados da morte.
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Angela Diniz - Praia dos Ossos, Búzios (RJ). O então playboy Raul Fernando do Amaral Street, o Doca, mata a tiros em 30 de dezembro de 1976 a socialite Angela Diniz, a "Pantera de Minas".
Ninguém testemunha o crime. Apenas uma empregada de Angela escuta os tiros após uma discussão do casal, que estava junto havia dois meses.
O motivo do crime teria sido o ciúmes de Doca, que teria sido provocado pelo relacionamento que Angela manteria com a alemã Gabrielle Dyer. Angela também estaria querendo terminar a relação. Doca internou-se numa clínica psiquiátrica, mas acabou preso e julgado. Faltam oito meses para o término da pena de 15 anos.
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Cláudia Lessin - Na manhã de 25 de julho de 1977, o corpo de Cláudia Lessin Rodrigues, 21, foi encontrado num despenhadeiro, próximo à zona sul do Rio. Filha de um piloto aposentado, seu corpo estava nu. O laudo do IML apontou que fora morta por enforcamento e que sofrera hemorragia cerebral, provocada por pancadas na cabeça. Também havia indicação de que ela fora violentada.
O cabeleireiro Georges Khour, principal suspeito do assassinato, foi absolvido pela Justiça carioca. Outro acusado, Michel Frank, nunca foi julgado pelo crime. Doze anos depois da morte de Cláudia, ele foi assassinado em Zurique, Suíça -país em que respondia a processo por porte de drogas.
Até hoje o assassinato de Cláudia não foi esclarecido.
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Iberê Camargo - em 5 de dezembro de 1980, o pintor Iberê Camargo foI preso em flagrante por matar o engenheiro Sérgio Alexandre Areal. Camargo alegou ter sido agredido (empurrado) por Areal em uma rua da zona sul do Rio. O pintor, cuja obra sempre fora considerada "dramática", passou a viver seu drama pessoal naquele momento.
Ele atirou duas vezes com uma pistola que carregava numa bolsa, matando Areal na hora.
Em julgamento realizado no ano seguinte, o pintor seria absolvido pelo 4º Tribunal do Júri, que acatou a tese de legítima defesa.
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Dorinha Duval - Em outubro de 1980, a atriz Dorinha Duval, 51, matou com três tiros o seu companheiro, Paulo Sérgio Garcia de Alcântara, 35. O crime aconteceu de madrugada e a atriz chegou a acompanhar a ambulância que levou Alcântara ao hospital. Dorinha Duval foi julgada duas vezes. Na primeira, foi aceita a tese de que matara em legítima defesa, mas foi condenada a um ano e seis meses de prisão. Acabou ficando em liberdade. A família de Alcântara recorreu e ela foi levada a novo julgamento. Foi condenada a seis anos de prisão.
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Eliane de Grammont - Também conhecido como o "caso Lindomar Castilho". No dia 30 de março de 81, o cantor invadiu o café Belle Époque, no Jardim Paulista. Ele portava um revólver calibre 38, comprado seis dias antes.
No palco do café, sua ex-mulher Eliane de Grammont cantava, acompanhada do violonista Carlos Roberto. Castilho disparou cinco tiros, que mataram Grammont quase que instantaneamente. O cantor foi dominado por fregueses e preso.
Começou uma batalha judicial entre Márcio Thomaz Bastos (acusação) e Valdir Troncoso Peres (defesa). Entidades feministas, atentas ao que ocorrera no caso Angela Diniz, se mobilizaram para pressionar a Justiça.
A defesa esperava absolvê-lo com o argumento de que matara por amor (ou ciúmes).
O contra-ataque, em resposta, vinha do lado de fora do tribunal, com feministas empunhando faixas com a frase "Quem ama não mata".
A condenação definitiva ocorreu em agosto de 1984. O cantor de boleros acabou condenado a 12 anos de prisão. Quatro anos depois, ele recebeu liberdade condicional do Conselho Penitenciário de Goiás, por bom comportamento.
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Mônica Granuzzo - Dia 16 de junho 1985. A estudante cai do sétimo andar de um prédio na rua Fonte da Saudade, na Lagoa (zona sul do Rio). Seu corpo é removido do playground do prédio e levado por três homens para a estrada Dona Castorina, na Tijuca.
A polícia começa a investigar o caso. Ela tinha 14 anos e, na madrugada do dia 16, havia conhecido na danceteria Mamão com Açúcar o ex-modelo fotográfico Ricardo Peixoto Sampaio, 27.
No dia seguinte, Sampaio foi buscá-la e a levou a seu apartamento, local do crime. Foi a mãe da estudante quem deu à polícia o endereço do ex-modelo após o corpo da filha ser achado. Sampaio disse que Mônica teria se jogado da janela após "confessar que era um travesti".
Com a ajuda de dois amigos, o corpo foi levado à Tijuca. Os amigos foram condenados por ocultação de cadáver. O ex-modelo foi condenado em 91 a 20 anos por ter atirado a estudante da janela.

Colaborou o Banco de Dados

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