São Paulo, segunda-feira, 27 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ópera afina estudantes nova-iorquinos

GILBERTO DIMENSTEIN
DE NOVA YORK

Cantores de ópera como Plácido Domingo e Luciano Pavarotti participam de uma operação para salvar uma escola pública de Nova York. Batizado de "OPERAção" (OPERAtion, em inglês), o projeto começou a ser aplicado em 1991 na escola primária Luis Muñoz Marín, no Brooklin.
Dois anos antes, a escola figurava nos últimos lugares da lista de avaliação das escolas do Estado.
Com verbas federais e dinheiro de fundações privadas, a escola firmou acordo com o departamento de educação do Metropolitan Opera, principal teatro de ópera americano. Até então, o teatro apenas estimulava que os alunos assistissem gratuitamente aos ensaios.
Com o projeto, eles foram para a sala de aula, administrando o curso, onde viram o drama de perto.
Crianças hispânicas, negras e asiáticas, na maioria carentes, mais acostumadas a ouvir rap ou salsa foram expostas a cantores que "berram" em língua incompreensível.
"Aos poucos, eles foram introduzidos ao encanto da ópera", conta Mary Jo Lassen, responsável pelo programa.
A ópera era apenas um pretexto. "A música serve para integrar várias matérias ao mesmo tempo", afirma a diretora Jo Asciutto.
Por meio dela, alunos são levados a estudar faraós do Egito ou Napoleão, por exemplo.
Além de entender o que é encenado, os alunos são ensinados a produzir um espetáculo, exibido no final do ano para colegas e pais.
Preparam o custo (o que exige matemática), produzem o figurino (geometria), escrevem as letras (redação), lêem textos de outras óperas (leitura), fazem pesquisa de época (história). Tudo é realizado em computador, habilidade de indispensável de qualquer trabalhador.
Depois, são levados aos ensaios no teatro, instalado no Lincoln Center, e entrevistam os artistas.
Um deles foi Plácido Domingo. Além da entrevista, ele deu autógrafos e se deixou fotografar. "Nunca pensei que pudesse ter um autógrafo dele", orgulha-se Hay Nguyen, que assistiu a "Madame Butterfly".
Crystal Sala apreciou "Madame Butterfly", mas tem outras preferências. "Gosto mesmo de `La Traviata"', opina.
A escola procura também envolver os pais, tentando estimular o interesse na educação dos filhos. A família inteira vai ao teatro.
Se já é difícil introduzir as crianças, imagine os adultos. "Não paramos de surpreender", afirma Mary Jo. Ela soube que pais pobres estavam dando a seus filhos CDs com trechos de óperas.
Hoje a escola se orgulha de ter saído da linha vermelha no ranking das escolas de Nova York, graças ao melhor desempenho em matemática e leitura.

Texto Anterior: Zona leste da capital é atingida por cheia
Próximo Texto: Escola islâmica recebe dinheiro do governo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.