São Paulo, segunda-feira, 27 de janeiro de 1997
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Peter Fonda cria abelhas em 'Ulee's Gold'

ADRIANE GRAU
ENVIADA ESPECIAL A PARK CITY

Pode parecer incrível, mas mesmo estando numa idade em que a idade não pode mais ser mencionada, Peter Fonda ainda se vale de relações familiares para dar um empurrãozinho em sua carreira.
"Quando me reconhecem na rua sem saber quem sou, vou logo dizendo que sou o pai da Bridget Fonda", diz ele.
Ele recebeu a reportagem da Folha durante o Sundance Film Festival, que apresentou com destaque o filme "Ulee's Gold", de Victor Nunez, em que Fonda faz o papel principal.
Confuso quanto a datas, ele citava 1964 quando queria dizer 1994. Mesmo corrigido, insistiu no erro. Talvez uma reminiscência de quando se tornou querido no mundo do cinema com "Sem Destino".
Em "Ulee's Gold", Ulisses (Peter Fonda) é um homem desgastado pela vida. Viúvo e com o único filho na prisão, o apicultor se divide entre as abelhas que lhe dão sustento e as netas que lhe dão dor de cabeça. A mais velha, Casey (Jessica Biel) sente falta do pai, mas não quer ajudar a olhar a irmã Penny (Vanessa Zima), de nove anos.
A vida sem sobressaltos que eles tocam no interior da Flórida é sacudida pela volta da mãe Helen (Christine Dunford), viciada em heroína.
Os cúmplices de seu marido no assalto que o colocou na prisão ameaçam a família para pegar de volta o dinheiro. Quem tem de segurar a barra é o ex-veterano do Vietnã interpretado por Fonda.
*
Folha - Ao invés de querer se livrar da sombra do pai, você parece querer ficar à sombra da filha...
Peter Fonda - Meu sobrenome apenas abriu uma porta quando eu era jovem. Mas eu tive de segurá-la aberta. Hoje em dia, peço conselhos a Bridget, então nada mais justo que lembrar seu nome.
Folha - Então você apóia a carreira dela?
Fonda - Mas, para isso, obriguei Bridget a fazer faculdade. Quando ela me disse que queria ser atriz, avisei que era um verbo e não um substantivo e que ela teria de aprender aos poucos. Cada ator tem de desenvolver uma técnica própria para memorizar textos. É o mais importante.
Folha - Após ter feito "Fuga de Los Angeles" com John Carpenter por US$ 50 milhões, como foi trabalhar com baixo orçamento para o diretor Victor Nunez?
Fonda - Nunez é o diretor mais generoso com quem já trabalhei. Ele senta com o elenco e estuda nuances para cada personagem. É o melhor papel de minha carreira.
Folha - Qual sua cena preferida num filme tão minimalista, em que há poucos diálogos?
Fonda - Gosto muito dos momentos em que Ulisses lida com as abelhas. Isso me fez lembrar do meu pai, que tinha colméias em casa. A calma com que ele ia extrair o mel mostrava um autocontrole sedutor. Fazer Ulisses foi um exercício de tranquilidade.
Folha - Afinal, o que aconteceu entre você e Dennis Hopper. Houve uma briga por causa dos direitos de "Sem Destino"?
Fonda - Dennis é um megalomaníaco. Ele pensa que fez tudo sozinho e esquece que filmes são criações coletivas.
Folha - É verdade que você está escrevendo um autobiografia?
Fonda - Já passei das 800 páginas. Vai se chamar "Don't Tell Daddy" (não conte para papai).
Folha - Por que resolveu escrever sua biografia agora?
Fonda - Só para aterrorizar minha irmã.

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